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Artigos de Opinião

Metanol, o grande vilão. Mas, e os outros?

Wilson Aquino
Opinião -

Até onde a ausência de escrúpulos do homem, movido pela ganância, pode levá-lo na busca do enriquecimento ilícito a qualquer custo? O metanol — o grande vilão do momento — tornou-se manchete porque seus efeitos foram imediatos e devastadores. Dezenas de pessoas perderam a vida ou ficaram com sequelas após ingerirem bebidas alcoólicas adulteradas com essa substância altamente tóxica. Um veneno disfarçado em copo de festa, resultado direto da combinação mortal entre a negligência e a ambição humana.

Mas o metanol é apenas a ponta visível de um iceberg de contaminações silenciosas. O que dizer de tantos outros produtos, também consumidos no dia a dia, cujos efeitos nocivos se manifestam de forma lenta, sorrateira, e muitas vezes jamais são descobertos? É o caso recente de uma fábrica de laticínios do Rio Grande do Sul que, segundo a Vigilância Sanitária, utilizava soda cáustica e água oxigenada na produção, inclusive de leite em pó que eram distribuídos às escolas públicas. Um escândalo que assusta, mas que infelizmente não surpreende.

O ser humano, quando perde o senso de ética, torna-se capaz das piores atrocidades em nome do lucro. E isso não é novidade. Lembro-me bem, ainda no início de minha carreira jornalística, nos anos 80, quando aprendi que a boa notícia nasce do cultivo de fontes seguras e confiáveis. Foi assim que, em contato com a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), descobri laudos técnicos que denunciavam fraudes em marcas renomadas do mercado. Em muitas delas, além dos grãos de café, encontrava-se madeira, milho, cascas e até terra misturada ao pó. Terra! Um verdadeiro atentado à dignidade do consumidor, que, sem saber, tomava um “café” que pouco tinha de café.

O mesmo ocorria nas fiscalizações do Inmetro, que acompanhei de perto em supermercados e açougues. As balanças, coincidentemente, sempre, pendiam contra o consumidor. E as bombas de combustíveis, então? Muitos postos vendiam — e ainda vendem — misturas adulteradas com solventes, excesso de álcool e até água. Tudo em nome do lucro rápido e da ilusão do “jeitinho”, que tanto mal faz à nossa nação.

Essas práticas não são apenas ilegais — são espiritualmente condenáveis. A Bíblia já nos adverte que “balança enganosa é abominação para o Senhor, mas o peso justo é o seu deleite” (Provérbios 11:1). Desde os tempos antigos, o Criador já denunciava as fraudes comerciais e a exploração do próximo como pecados graves contra a justiça e a verdade.

Hoje, em plena era tecnológica, em que a ciência avança e as comunicações são instantâneas, a malandragem industrial parece se reinventar com a mesma velocidade. A cada nova operação da Vigilância Sanitária ou do Ministério Público, descobre-se uma fábrica clandestina, uma manipulação criminosa, uma fraude com rótulo bonito e publicidade enganosa. Enquanto isso, milhões de brasileiros continuam consumindo, sem saber, produtos alterados, nocivos e muitas vezes fatais.

E há também a sutileza das “meias-verdades” comerciais. Os produtos “tipo” alguma coisa — “tipo queijo”, “tipo presunto”, “tipo manteiga” — são um disfarce legal para composições baratas e químicas que nada têm do alimento original. São novos produtos com velhos nomes, embalagens atraentes e letras miúdas que escondem a verdade. Talvez por isso tantas crianças e adultos hoje convivam com alergias, intolerâncias e distúrbios que antes eram raros.

No caso das bebidas falsificadas, o problema é ainda mais grave. Garrafas originais, recolhidas por bares e restaurantes, viram moeda valiosa no mercado clandestino. São preenchidas com líquidos baratos, coloridos e aromatizados para enganar os sentidos. E como o consumo de álcool é intenso e constante, o perigo se espalha com facilidade. Cada gole pode ser um risco.

A pergunta que fica é: o que mais estamos consumindo sem saber? Quantos produtos, dos mais simples aos mais sofisticados, estão contaminados por substâncias invisíveis, criadas pela ganância humana e pela falta de fiscalização eficiente?

É preciso um despertar coletivo. As autoridades precisam agir com rigor, mas o consumidor também deve ser vigilante, informado e exigente. Afinal, o que está em jogo é a vida — e ela não pode ser medida em percentuais de lucro.

As Escrituras são claras ao advertir: “O amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1 Timóteo 6:10). E o Livro de Mórmon reforça que “é por causa de vossas riquezas, vossa ganância pelas coisas vãs do mundo, que destruístes vossos irmãos” (Helamã 7:21). Quando o dinheiro se torna o principal deus do homem, o valor da vida é reduzido a centavos, e a alma se corrompe na mesma proporção do lucro.

Vivemos tempos em que quase tudo é passível de falsificação: alimentos, bebidas, medicamentos e até valores morais. O metanol, que agora assusta o país, é apenas um lembrete doloroso de que o verdadeiro veneno pode estar não só nas garrafas, mas no coração de quem perdeu o temor a Deus e o respeito pelo próximo.

Que essa tragédia sirva de alerta para todos nós — consumidores, empresários e governantes — de que a ética é o ingrediente mais essencial em qualquer produto humano. Sem ela, tudo o que tocamos se contamina.
E, como bem ensina o Livro de Mórmon: “Eis que vossos tesouros perecerão convosco” (2 Néfi 9:30). Que aprendamos, portanto, a medir não o lucro, mas a consciência; não o ganho material, mas a retidão moral. Pois sem honestidade e amor ao próximo, toda prosperidade se transforma em maldição.

*Jornalista e Professor

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