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Cotidiano

De 273 casos a 313 mil: como a Matemática explica avanço do coronavírus em Campo Grande

Saia de casa apenas para o essencial ou, se possível, mantenha-se recluso. Caso tenha de ir às ruas, supermercado ou ao transporte coletivo, sempre use máscara. Não leve as mãos às mucosas (olhos, boca e nariz) e sempre as higienize com água e sabão ou álcool em gel. Chegando em casa, tire as roupas e […]
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Saia de casa apenas para o essencial ou, se possível, mantenha-se recluso. Caso tenha de ir às ruas, supermercado ou ao transporte coletivo, sempre use . Não leve as mãos às mucosas (olhos, boca e nariz) e sempre as higienize com água e sabão ou álcool em gel. Chegando em casa, tire as roupas e siga direto para o banho.

O roteiro de medidas básicas contra o novo (Covid-19) é relativamente simples, porém, o descumprimento a elas –cada vez mais crescente– é visto como decisivo para o aumento no número de casos. Concomitantemente aos 479 casos que o Estado totalizou nesta sexta-feira (15), estando 171 na Capital, as taxas de distanciamento social vêm caindo. Na quinta-feira (14), somaram 37,9% no Estado e 37,1% em .

É como se, a cada 100 sul-mato-grossenses, 38 ficaram em casa e 62 saíram de casa. Na Capital, essa proporção é de 63 para 37.

Em abril, os professores Erlandson Saraiva (Instituto de Matemática) e Leandro Sauer (Escola de Administração e Negócios), ambos da UFMS (Universidade Federal de ) desenvolveram uma modelagem matemática/estatística sobre a quantidade de casos da Covid-19 na Capital, justamente com a intenção de entender como a doença se alastra e, de forma direta, encontrar um comportamento que mostre sua evolução. Por fim, a partir disso, criam-se estratégicas de enfrentamento que possam ajudar Campo Grande a se manter como a capital com menos casos proporcionais por habitante do Brasil.

Histórias individuais, situações específicas e eventos são convertidos em números e, agora, usados em tentativas de se prever cenários e, principalmente, traçar estratégias para minimizar danos. O estudo, até aqui, aponta cinco possibilidades. No melhor dos mundos, a Capital teria o auge da pandemia com 273 casos confirmados de coronavírus. No pior, haveria 313.631 casos na cidade, ou 35% da população –ainda abaixo, por exemplo, dos números da chamada “imunidade de rebanho”, no qual se requer cerca de 70% da população contagiada.

Números dinâmicos

Na segunda-feira (11), quando a Capital registrou 159 casos, o modelo matemático indicava que o máximo de contaminados na cidade seria de 314 pessoas, levando-se em consideração uma taxa de notificação estimada em 3%. “Quer dizer que, se continuar do jeito que estamos, o máximo de pessoas que se registraria em Campo Grande com coronavírus, com base nos dados, é de 314 pessoas. Nós chegaríamos no platô”, explicou Erlandson, usando o termo que sanitaristas indicam como o auge de contágio, quando haveria a tendência de estabilização ou queda da curva de contaminação.

Seria um cenário animador diante de uma doença que causa corridas a hospitais pelo resto do país. Contudo, o matemático adverte que os números também são dinâmicos, mudando conforme as variáveis usadas no cálculo também se alteram –e elas incluem a adesão ao isolamento, outras medidas de controle ou eventos como os feriadões, que aumentaram a circulação de pessoas nas ruas. “O problema é que estamos recebendo novas informações e, com isso, o valor aumenta”, disse.

A própria taxa de 3% já se mostra contaminada por tais variáveis. Entre elas, as celebrações do Dia do Trabalhador, em 1º de maio –quando a Guarda Civil Municipal flagrou, em 5 horas, cerca de 600 pessoas ignorando as regras de distanciamento social no feriado. Até lá, a taxa de notificação de casos usadas nos cálculos era de 1,3%. Ou seja, era 130% menor.

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Dados vão considerar eventos como retorno do transporte público ou reabertura do comércio. (Foto: Arquivo)

A taxa de notificação, por sua vez, é calculada com base nos números que a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) totaliza diariamente sobre os casos comunicados de coronavírus e os confirmados. “O que fazemos no modelo é assumir essa taxa como verdadeira e fazemos cenários. Em dois deles, onde conseguimos reduzir isso [o contágio] em 10% e 20%, que reduziria a quantidade de casos confirmados para 273 e 304, respectivamente; e três em que aumentamos em 25%, 50% e 75%, uma situação bem brusca”, explicou o professor.

Caso haja um aumento de 50% no volume de contágio, os 314 casos previstos passariam para 2.797. Por outro lado, se a evolução for de 75%, chegaria-se aos mais de 313 mil doentes e, em agosto, o sistema de Saúde de Campo Grande entraria em colapso, pois não haveria leitos clínicos e de UTI suficientes na cidade para atender a demanda de pacientes, conforme o estudo.

Progressões

A diferença de dados causa assombro e, para alguns, ampliam a descrença sobre algo que já foi tratado como uma “gripezinha”, mas que já matou mais de 10 mil pessoas no Brasil. “[A diferença] se dá porque se usam taxas exponenciais. As pessoas estão acostumadas com escalas normais. Em uma taxa exponencial, uma alta de 2,5% para 2,6% parece mudar pouco, mas esse 0,1% é muito”, explicou. “É como se fosse um cálculo de juros sobre juros”, ilustrou Erlandson.

Outro comparativo é entre as progressões aritméticas e geométricas, ensinadas no Ensino Fundamental. Enquanto a primeira mostra um avanço com diferença constante entre seus valores (2, 4, 6, 8, 10 etc.), a progressão geométrica multiplica os números sequencias (2, 4, 8, 16, 32, 64 etc.). Notadamente, a segunda mostra um avanço mais rápido. Porém, nas taxas exponenciais, essa evolução é ainda mais brusca.

Os dados fechados pela UFMS até aqui estão centralizados na quantidade de notificações. “Agora trabalhamos em outro modelo, onde inserimos outras variáveis: a quantidade de infecções entre as pessoas, classes sociais”, disse o professor.

Mais dados a serem somados

De volta aos dados de Campo Grande, ele explica que a atualização vem sendo semanal, com base nas informações já existentes. E que, assim como para os especialistas de Saúde, retratam quadros iniciados até 14 dias antes –período entre o contágio e manifestação de sintomas do coronavírus.

“O que estamos refletindo hoje é de 10 dias atrás. Na próxima semana, por exemplo, iremos ver o que o Dia das Mães traz [de números]”, explicou, apontando um evento que resultou em festas e aglomerações familiares e que pode levar a um novo aumento no total de casos.

Embora detalhes dos dados humanizados ainda venham a ser inseridos, algumas percepções são notadas nos números, indo de encontro àquilo que especialistas em Saúde já apontam: flexibilização das medidas de controle, reabertura do comércio e a própria falta de adesão da população ao isolamento ou mesmo às medidas simples de controle ajudam a elevar a taxa de notificação.

“Queremos agora justificar os resultados com base nos dados registrados: se no dia houve uma movimentação, uma manifestação, se no dia foi liberada a entrada em algum lugar”, explicou Erlandson Saraiva.

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