Pular para o conteúdo
Cotidiano

‘Tráfico continua sendo crime’: entenda o que muda se porte de droga for descriminalizado

Supremo Tribunal Federal retomou discussão sobre porte de drogas para uso pessoal nesta semana; defensor público de MS explica o que envolve esse julgamento e o que pode mudar
Thalya Godoy -
Votação no STF não inclui permissão para comércio de drogas. Imagem Ilustrativa, (Nathália Alcântara, Jornal Midiamax)

O STF (Supremo Tribunal Federal) retomou, na quarta-feira (2), o julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas para uso pessoal. O assunto é discutido na corte desde 2015 e foi retomado nesta semana com voto a favor do Ministro Alexandre de Moraes, deixando o placar 4 a 0.

Os ministros analisam a constitucionalidade do Artigo 28 da Lei das Drogas (Lei 11.343/2006), que prevê quem adquire, guarda ou transporta drogas para uso pessoal está sujeito a: 

  • Advertência sobre os efeitos das drogas;
  • Prestação de serviços à comunidade;
  • Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Conforme explica o defensor público de Mato Grosso do Sul, Cahuê Duarte e Urdiales, desde a lei de 2006, que substituiu a Lei nº 6.368/1976, não é prevista pena privativa de liberdade para quem é flagrado com para uso pessoal. 

“Na antiga lei de drogas [de 1976] a pena era de seis meses a um ano”, explica Cahuê, que também é coordenador do Nuspen (Núcleo Institucional do Sistema Penitenciário).

Mesmo que a nova lei não preveja reclusão, o processo pelo porte de drogas para consumo pessoal poderia resultar em reincidência. Ou seja, caso a pessoa cometa outro crime, ela não seria mais considerada ré primária. Isso poderia afetar progressões de pena para quem já está preso, por exemplo.

“Contudo, a jurisprudência já tem afastado esse entendimento por uso, eliminando efeitos penais em alguns casos”, explica o defensor. Assim, se a pessoa é pega com alguma droga para uso pessoal atualmente ela pode ser considerada ré primária.

O que acontece se a descriminalização for aprovada?

O defensor ressalta que o que está em discussão no STF é a descriminalização da posse para uso e não a legalização das drogas. Isso significa que o tráfico de drogas continua sendo crime, mas que as pessoas não poderão ser penalizadas por portar a substância. O crime de tráfico de drogas prevê pena entre 5 e 20 anos de prisão.

“O tráfico continua sendo crime. A decisão do STF, se caminhar nesse sentido para a descriminalização, a posse de uso de droga para consumo próprio deixa de ter qualquer efeito criminal”, pontua. 

Neste caso, os processos que envolvem a posse de droga para consumo próprio serão extintos. De acordo com a presidente do STF, ministra Rosa Weber, há 7.769 processos em instâncias inferiores que podem ser afetados pela decisão da corte.

Já o defensor público afirma que é a favor da descriminalização nesses casos de posse para uso pessoal e exemplifica que ninguém é punido pelo consumo do álcool, que também pode causar vício e ser prejudicial à saúde.

“São discursos vazios dizer que, a partir dessa decisão, o consumo de drogas pode aumentar para quem faz uso recreativo. Quem usa vai continuar usando. Acho que a sociedade tem que ter um debate sério sobre o uso crônico, que é um problema de saúde pública […] é uma questão multissetorial”, afirma o defensor. 

Diferença entre usuário x traficante

A Lei das Drogas, de 2006, no Art. 28, não prevê a quantidade de droga em que uma pessoa pode ser considerada usuária ou traficante. Cada caso é analisado individualmente a partir das circunstâncias do flagrante. 

Alexandre de Moraes, na quinta, votou a favor da descriminalização da posse de maconha para uso pessoal. Na sessão, ele ainda disse que deve ser considerado usuário quem portar entre 25 e 60 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas de cannabis.

Moraes foi o único a votar na sessão desta semana. O ministro pediu adiamento para analisar o tema e ainda não foi marcada nova data para o retorno do julgamento.

O ministro Moraes também considerou que a quantidade não será o único requisito para avaliar se o indivíduo é usuário.

No voto, ele expôs dados sobre um estudo da Associação Brasileira de Jurimetria, que aponta que pessoas negras e analfabetas são consideradas traficantes com mais frequência do que pessoas brancas e com ensino superior, mesmo quando são flagradas com quantidade menor de entorpecentes. 

“Triplicou-se em seis anos o número de presos por tráfico de drogas, mas não triplicamos o número de presos brancos, com mais de 30 anos e ensino superior, e sim o de pretos e pardos sem instrução e jovens. É preciso garantir a aplicação isonômica da Lei de Drogas para evitar que, em virtude de nível de instrução, idade, condição econômica e cor da pele você possa portar mais ou menos maconha”, disse o ministro. 

O defensor público de Mato Grosso do Sul, Cahuê Duarte e Urdiales, também concorda que a quantidade não é o critério fundamental para avaliação da pessoa como usuária ou traficante.

“Ser usuário ou traficante vai além da quantidade, tudo depende da circunstância, mas o fato é que pessoas pretas com menos quantidade são consideradas traficantes, diferente de brancos”, ele argumenta. 

Votação no STF

O debate sobre a descriminalização do porte de drogas para uso pessoal no STF ocorre há oito anos e ainda não há um prazo para terminar. 

A corte ainda deve terminar de avaliar se essa descriminalização será válida somente para a maconha ou para outras substâncias.

Até o momento já votaram os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, e Luís Roberto Barroso. 

A votação na corte ocorre em decorrência do recurso da Defensoria Pública de , apresentado em 2011, sobre um detento que foi flagrado com 3 gramas de maconha dentro do centro de detenção provisória de Diadema. 

No recurso, a defensoria argumenta que a criminalização do porte individual fere o direito à liberdade, à privacidade e à autolesão. 

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Carro fica crivado com 14 tiros na região de fronteira

Documentário ‘Mulheres na Ciência’ será exibido na TV aberta

Treino aberto de equipes da Supercopa de Vôlei dá oportunidade para torcedores que não poderão assistir os jogos

Barroso vota por descriminalizar aborto até 12ª semana de gestação

Notícias mais lidas agora

Detran-MS

MP autoriza prorrogar pela oitava vez inquérito contra indicado de político por corrupção no Detran-MS

Treino aberto de equipes da Supercopa de Vôlei dá oportunidade para torcedores que não poderão assistir os jogos

multas transporte

Juiz ignora ameaça de cortar vale-transporte e nega suspender multas contra o Consórcio Guaicurus

Familiares procuram por Evelin, desaparecida há nove dias em Campo Grande

Últimas Notícias

Polícia

Mulher é vítima de tentativa de homicídio com golpes de facão da cabeça

O crime ocorreu na região da Avenida Guaicurus

Brasil

Barroso autoriza enfermeiros a auxiliar aborto legal e proíbe punição

O ministro também garantiu que os profissionais não podem ser punidos

Brasil

Câmara já gastou R$ 3,3 milhões com deputados presos ou fora do Brasil

R$ 3,3 milhões para custear gastos do gabinete de parlamentares

Polícia

Quatro agressores são presos pela Delegacia da Mulher em menos de 12 horas

4 agressores foram presos pela Delegacia de Atendimento à Mulher de Três Lagoas