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Cotidiano

Com múltiplas jornadas, escala 6×1 tem peso maior sobre mulheres e pode adoecer famílias

Sem tempo para si e para convivência, famílias se distanciam
Priscilla Peres -
(Foto: Madu Livramento/Jornal Midiamax)

Enquanto se fala em tempo de qualidade, mulheres com múltiplas jornadas enfrentam a total falta de tempo. Ao cumprir 44 horas semanais no mercado de trabalho, o tempo “que sobra” é dedicado ao trabalho de cuidado, invisível, mas essencial para o andamento das famílias.

Em discussão na Câmara dos Deputados, em , a jornada de trabalho 6×1 é o reflexo da escassez de tempo do trabalhador, mas quando se fala em mulheres, a exaustão atinge camadas mais profundas. A criação dos filhos, a manutenção da casa, os baixos salários e a utopia de ter um momento para si, formam uma conta que não fecha.

As mulheres são minoria no mercado de trabalho formal. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que tem 11,3 mil mulheres trabalhando com carteira assinada em 2024, enquanto o número de homens chega a 14,7 mil.

O trabalho de cuidado, aquele feito dentro de casa e não remunerado, tem grande peso sobre as mulheres. Dados de 2022 do IBGE mostram que, em Mato Grosso do Sul, as mulheres dedicaram aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos quase o dobro de tempo que os homens (19,2 horas contra 10,8 horas).

E essa dedicação ao trabalho de cuidado restringe uma participação mais ampla das mulheres no mercado de trabalho. Em Mato Grosso do Sul, 21,6% das mulheres de 15 a 24 anos, não estavam ocupadas, enquanto entre os homens na mesma faixa etária o percentual foi de 10,5%.

jornada 6x1
Manifestação reuniu cerca de 80 pessoas (Helder Carvalho, Jornal Midiamax)

Lazer é luxo para mulheres

Com seis dias por semana trabalhando em salão de beleza e apenas o domingo em casa, lazer não faz parte do vocabulário de mulheres que atuam com comércio e serviços, em . No que seria o tempo livre, as horas são preenchidas com trabalho doméstico e de cuidado.

“A gente não tem lazer, não tem vida social”, conta a cabeleireira Rafaela Leal, 43, que trabalha das 8h às 18h e reconhece que o tempo que ela tem pra si “é o que sobra”. Atuando como MEI (microempreendedor individual), ela não tem direito a férias remuneradas, então se programa para não trabalhar em janeiro.

“Eu me preparo o ano todo para conseguir tirar férias em janeiro e pode ir para praia”, conta Jussara Silva, também cabeleireira. Ela afirma que a rotina é corrida, não tem tempo para quase nada e só consegue mesmo fazer academia de manhã cedo. Então, o jeito que encontra é se programar e tirar férias em janeiro.

Aliado a isso, reclamam da falta de acesso à cultura e lazer em Campo Grande. Mesmo não sendo CLT, ambas são favoráveis à mudança na jornada 6×1, que não condiz com horário escolar e do mercado de trabalho. “Eu já passei por isso e eu sei como é, não tem como essa mulher ter descanso”.

trabalhadores
Manifestantes estavam com cartazes (Helder Carvalho, Jornal Midiamax)

Sobrecarga que adoece

Dados mostram que historicamente as mulheres vivem múltiplas jornadas de trabalho e quando a escala de trabalho ocupa seis dias inteiros na semana, a sobrecarga tem potencial adoecedor para elas e suas famílias.

É o que acredita e defende a professora universitária Bartolina Ramalho Catananti, 62 anos. “Como professora, o que a gente mais ouve na educação, é que hoje os pais não se responsabilizam pela educação dos filhos. E isso repercute por quê? Porque eles trabalham fora, e esse tempo de família, tempo de educação, é muito restrito”.

Considerando uma escala de 6×1 do comércio, onde mulheres trabalham de segunda a sábado, o tempo que sobra é dedicado para a limpeza, lavagem de roupa, organização da casa, educação dos filhos. Não sobra tempo para cuidado dos filhos e lazer, como relatam as mulheres.

“Eu acho que o lazer, no caso das mulheres, tem adoecido essas famílias e essas mulheres, porque se a mulher está bem, a família está bem, mas uma mulher estressada, cansada, sem tempo para ela, é uma coisa fora de série. A família toda sofre”.

E é considerando tudo isso, que a professora defende mudanças na jornada de trabalho. “A precarização do trabalho continua prevalecendo e as pessoas ficam sem esse tempo. Eu acho que vai dar maior qualidade de vida para a mulher, para as famílias, porque precisamos desse tempo para cuidar da família. E isso significa, sim, adolescentes melhores, orientados, mais felizes e com qualidade com a sua família, né? Até cuidar do tempo do celular do filho é uma coisa que se você está junto você consegue propiciar outras coisas que tira esse menino da tela”.

Sobre a PEC

As 44 horas semanais resultam em jornadas de 6 dias de trabalho e 1 de descanso por semana, ou seja, a jornada de 6×1. A proposta que tramita na Câmara dos Deputados quer o fim dessa escala e ainda vai além, busca uma redução para a escala 4×3, ou seja, com 4 dias de trabalho e 3 de descanso.

“Esta emenda à Constituição surge a partir das demandas e reivindicações dos trabalhadores, por meio de mecanismos participativos, em que quase 800 mil brasileiros e brasileiras cobram do Congresso Nacional o fim da jornada 6×1 e adoção da jornada de trabalho de 4 dias na semana, evidenciando a relevância e o respaldo significativo da sociedade em relação à necessidade de reformas na legislação trabalhista”, diz trecho da justificada da PEC de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL-SP).

Para que a proposta siga para discussão no Congresso Nacional eram necessárias ao menos 171 assinaturas de deputados federais. O número foi ultrapassado no final da manhã da quarta-feira, 13 de novembro de 2024, quando 194 deputados se manifestaram favoráveis.

A proposta ainda deverá ser aprovada no Senado e sancionada pela presidência para ser incorporada à Constituição Brasileira. Para ler o texto da proposta na íntegra, acesse aqui.

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