O Dia Nacional da Vacinação, comemorado nesta sexta-feira (17), é mais um lembrete de que a imunização salva vidas. Um dos exemplos mais recentes é o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, há quatro anos. No entanto, dados do Ministério da Saúde alertam para a baixa cobertura vacinal em bebês menores de um ano em Mato Grosso do Sul contra a covid. Entre janeiro e agosto de 2024, apenas 3,12% das crianças dessa faixa etária se vacinaram.
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O monitoramento da Rede Nacional de Dados em Saúde indica que os 79 municípios estão abaixo da cobertura vacinal preconizada pelo Ministério da Saúde, que é de 95%. O menor índice foi registrado em janeiro (1,89%) e o maior em junho (4,55%).
A primeira dose do imunizante está disponível pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para crianças a partir dos seis meses de vida. O Ministério reforça que a vacina evita a forma grave da doença e o óbito. O esquema de doses inclui a vacina Spikevax e a Comirnaty, com reforço a cada seis meses até os quatro anos.

Abaixo da meta
Segundo a SES (Secretaria Estadual de Saúde), outras três vacinas também estão abaixo do recomendado em Mato Grosso do Sul: febre amarela, varicela e Dtpa (Gestante). Contudo, as demais vacinas alcançaram a meta estabelecida pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) de 95% em 2024.
O fenômeno da hesitação vacinal é complexo e multifacetado. Uma pesquisa da Revista Fapesp – revista jornalística especializada em cobrir a produção científica e tecnológica do Brasil – revela nove razões que explicam a queda brusca na vacinação infantil. O estudo considera dados do Ministério da Saúde, além da opinião de especialistas em imunologia, epidemiologia e saúde pública, que indicam:
- Percepção enganosa de que as doenças desapareceram;
- Desconhecimento sobre o calendário nacional;
- Fake news espalhadas na internet;
- Mudança no sistema de registro de vacinação;
- Funcionamento dos locais de vacinação;
- Medo dos efeitos do imunizante;
- Falta de tempo para se vacinar;
- Receio de que o número elevado de imunizantes sobrecarregue o sistema imunológico.
O poder da Fake News
Para o professor Lucelmo Lacerda, doutor em Educação, pesquisador e especialista em autismo, que tem se dedicado a desmentir mitos e combater a pseudociência, uma das principais fake news que circulam sobre as vacinas é a de que elas de alguma forma aumentam as probabilidades de autismo. Isso se deu por conta da publicação de um estudo fraudulento em uma revista científica conceituada. Esse material depois foi despublicado, pois o conteúdo não era verídico, mas o estrago já estava feito.
“Há também uma questão no autismo que é a regressão, que, explicando de forma rápida, acontece quando o desenvolvimento inicial do bebê é aparentemente normal, mas conforme ele cresce, vai perdendo certas habilidades. Isso acontece num período que, por coincidência, costuma ser próximo das primeiras vacinas. Então, essa relação temporal produz um equívoco que é muito problemático. Quando você olha para os casos de bebês autistas que não tomaram vacina, a regressão acontece na mesma data, mas como a maioria toma a vacina, as pessoas se confundem”, relata.
“Essas teorias se fortalecem muito por conta da desconfiança no poder público, que é presente na sociedade de muitas formas. As pessoas tendem a acreditar em teorias conspiratórias que questionam governos e até mesmo os cientistas”.
O desafio da vacina contra a covid
Para o especialista, a discussão sobre a baixa adesão na vacinação contra a covid-19 é diferente dos outros imunizantes, pois adere à premissa de questionamentos de natureza político-partidária que se mostrou antivacina, especificamente em relação à Covid.
“Essa mesma disputa praticamente não existe em relação às outras vacinas. As pessoas que se posicionaram, por influência político-partidária, contra a vacina da Covid, uma parte delas diz: eu sou contra só essa vacina, não das outras. Mas, a gente não mediu ainda com seriedade qual é o efeito específico da hesitação vacinal desta vacina sobre outras vacinas. Isso seria muito difícil de medir”.
Campanhas
Portanto, considerando que a ausência do medo da vacina não garante a adesão, Lacerda acredita que para melhorar o cenário de confiança na vacinação, a principal ferramenta envolve boas campanhas governamentais, parceria com divulgadores científicos e um incremento da educação científica na educação básica.

“As campanhas da Saúde têm um papel importante, mas existem outros processos que têm que acontecer também. Por exemplo, precisamos incentivar a abordagem do tema por divulgadores científicos, porque eles estão falando de temáticas ligadas à ciência o tempo todo. Eles ajudam muito a chegar a certos lugares onde às vezes as campanhas não chegam e eles têm mais possibilidade, mais abertura para explicar a fraude que deu origem a isso, que não faz tanto parte daquilo que é colocado nas campanhas públicas”.
“Outra coisa fundamental é a educação científica, pois as pessoas não entendem como funciona o método científico, e isso é fruto principalmente do nosso sistema educacional que é muito ruim. De fato, o método científico sequer faz parte desse currículo”.
Estratégias
Conforme o coordenador de Imunização da SES em exercício, Frederico Moraes, a pasta adota estratégias para enfrentar a baixa imunização. Por exemplo, o envio de recursos financeiros aos municípios para execução de ações em horário estendido, vacinação aos finais de semana, implementação de busca ativa de faltosos e implementação de pontos de vacinação em locais estratégicos. Essas medidas são determinadas pelo Projeto MS Vacina Mais.
Moraes ainda diz que, adicionalmente, o Estado tem feito parceria com as escolas por meio do projeto Aluno Imunizado, com ações de vacinação em escolas e emissão de declaração de vacinação atualizada. Logo, o Estado lidera os indicadores estratégicos na saúde pública, como indica um levantamento do CLP (Centro de Liderança Pública).
No entanto, outras vacinas estão acima do preconizado pelo Ministério da Saúde, como a BCG (96,11%) e a Hepatite B (94,95%).
Postos de saúde abertos
Em Campo Grande, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) revela que apenas as vacinas BCG e Hepatite B, que são aplicadas ao nascer, estão acima da meta proposta pelo Ministério da Saúde.
A pasta ainda indica que a vacinação depende da situação epidemiológica do município e da idade do paciente. Menores de cinco anos possuem um calendário de vacinas. Para os adolescentes, a partir dos 9 anos, são aplicadas as vacinas HPV, Dengue e ACWY.
Já os adultos precisam, a cada dez anos, conferir a situação da Dupla Adulto – que protege contra difteria e tétano. Logo, é necessário confirmar se o esquema vacinal da hepatite B foi realizado quando criança, e a febre amarela, além das vacinas de campanha.
Dessa forma, não existe um momento específico para ir tomar vacina. Portanto, a secretaria destaca que, se o paciente apresentar alguma dúvida sobre a necessidade de atualizar a caderneta, deve buscar uma unidade de saúde da família, onde será devidamente orientado.
A média de doses aplicadas na Rede Municipal de Saúde é de 68.000 por mês entre janeiro e agosto deste ano, somando as 74 unidades de saúde e as ações extramuros realizadas pela pasta.
Imunidade de rebanho
Após a vacinação, o Estado alcançou a chamada imunidade de rebanho, que é a imunidade coletiva. Isso ocorre quando uma pessoa infectada transmite o vírus ou a bactéria para menos de uma pessoa, proporcionalmente.
Se um número suficiente de pessoas em uma comunidade for vacinado contra uma determinada doença, elas podem alcançar algo chamado imunidade coletiva ou imunidade de rebanho.
Quando isso acontece, as doenças não podem se espalhar facilmente de pessoa para pessoa, porque a maioria das pessoas está imune. Sendo assim, isso proporciona uma camada de proteção contra as doenças, mesmo para aqueles que ainda não podem ser vacinados contra algumas doenças.
“A pandemia deixa um legado de extrema importância frente à relevância da vacina no contexto da saúde pública, como uma ferramenta altamente eficaz e poderosa no combate aos agravos que acometem a população. A introdução da vacina permitiu o retorno à normalidade e, mais uma vez na história, fica evidente que vacinas salvam vidas”, finaliza Frederico Moraes.
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(Revisão: Bianca Iglesias)