“Era tudo mato”. É assim que moradores pioneiros do Jardim Aeroporto descrevem o bairro nos anos 1980. Sem energia elétrica, telefonia ou asfalto, a área era considerada “inóspita”, ou seja, pouco habitável. Quatro décadas depois, a região se transformou a partir da construção da ponte na Rua Wanderlei Pavão, que conectou o bairro ao resto de Campo Grande e impulsionou seu desenvolvimento.
O Jardim Aeroporto, na divisão oficial da Prefeitura de Campo Grande, integra o Bairro Popular, na região do Imbirussu. O bairro também inclui parcelamentos como o Jardim Itália, Vila Popular, Jardim Pantanal e Jardim das Reginas. Ao todo, são 19.401 habitantes nesta área, população maior que a de 47 municípios de Mato Grosso do Sul, ou seja, 60% do Estado.
Sem muitos atrativos à época, os primeiros moradores mudaram-se para realizar o sonho da casa própria numa região em que os terrenos eram mais baratos. Eles precisavam enfrentar ‘poeirão’ na estiagem e barro na chuva, quando o córrego Imbirussu transbordava, deixando a precária ponte intransitável e o bairro isolado. Assim, há quem tinha que faltar no trabalho com frequência e até trancou a faculdade por excesso de faltas.
Hoje, o mato fica só dentro das casas, que se espalharam por toda a área. Não é raro encontrar quintais cheios de árvores e plantas que lembram as origens da região e fazem o Jardim Aeroporto parecer até cidade do interior. Além disso, depois de muita luta da população, cruzar a ponte para chegar à Avenida Júlio de Castilho deixou de ser um desafio desde o início dos anos 2000. Este foi o pontapé para o desenvolvimento da região.
Midiamax no Jardim Aeroporto
Nesta semana, o Jornal Midiamax fala sobre o desenvolvimento da região do Jardim Aeroporto no projeto Fala Povo: Midiamax nos Bairros.
Reportagens vão apresentar histórias, curiosidades, pontos gastronômicos, segurança, infraestrutura e tudo o que envolve o cotidiano da população local. Você pode acompanhar no site, no jornal impresso e também nos programas televisivos do Jornal Midiamax (canal 4 da Net e transmissão ao vivo nas redes sociais).
A partir desta segunda-feira (20), você acompanha reportagens que vão terminar numa edição ao vivo do programa, transmitida dia 25 de outubro, próximo sábado, no Mercado Nunes, a partir das 11h, com direito a atração musical, sorteios, brindes e muito mais. Já anota o endereço: Avenida Pôr do Sol, 582.
“Só dava para passar de helicóptero”
Aurélio Alvares, de 65 anos, é servidor aposentado da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e chegou à Rua Heitor Vieira de Almeida, no Jardim Aeroporto, em 1986. No início, a região contava somente com a Escola Estadual José Mamede de Aquino e não tinha outros equipamentos públicos.

“Só tinha energia na escola, não tinha telefone, era tudo tomado de mato e nós não tínhamos ônibus, porque não dava para atravessar a ponte”. A travessia no cruzamento da Rua Wanderlei Pavão com a Avenida José Barbosa Rodrigues era precária e passava apenas por reformas paliativas, que não resolviam o problema.
Ele chegou a trancar um curso de graduação porque os atrasos eram frequentes e contava com a compreensão do trabalho quando precisava faltar porque não conseguia atravessar a ponte. “As vezes, eu não conseguia passar a ponte para ir à universidade trabalhar. A região era considerada ‘inóspita’, de ‘difícil acesso’. Minha chefe já sabia que só dava para passar de helicóptero e aceitava a justificativa”, explica.
Pela longa distância, ele passava a maioria do tempo longe de casa. O trabalho de manhã e à tarde, além da faculdade à noite, faziam com que ele passasse horas na condução, num percurso somado de cerca de 60 km. “Eu ia dormir quase 1h da manhã”, conta. Assim, ele criou três filhos e viu os netos e bisnetos nascerem no Jardim Aeroporto.
“Barro, poeira e buraco“
Já Maria Márcia Mariano, dona de casa, mudou-se para o Jardim Aeroporto em 1989. Assim como Aurélio, ela e o marido conseguiram comprar um terreno por lá e decidiram chamar o bairro de lar. No entanto, ela não se esquece das dificuldades no início do desenvolvimento da região.
“Não tinha asfalto, nem posto de saúde, nem Cras (Centro de Referência de Assistência Social), nem ônibus, nada. Era barro, poeira e buraco”, conta. Além disso, sem ponte e sem condução, ela percorria mais de 3 quilômetros à pé, junto com os filhos, para chegar à casa de mãe dela no Bairro Santo Antônio.

A casa dela é um desses pequenos pomares urbanos. Com um quintal amplo e cheio de árvores frutíferas, Maria Márcia vive numa Campo Grande com gostinho de interior. “Foi muito bom. Eu vivi e vivo muitos momentos bons no Jardim Aeroporto, é gostoso morar aqui”, comemora.
Antigamente, onde hoje fica o Residencial Búzios, entre o Zé Pereira e o Jardim Aeroporto, havia só uma mata grande, onde familiares de Maria Márcia plantavam e colhiam alimentos até para vender.
Jardim Aeroporto ligado ao mundo
“A ponte foi o marco principal”, explica Maria Márcia Mariano. Os moradores reivindicaram por anos a construção e reforma da antiga travessia de madeira. No entanto, foi necessária – nas palavras dela – “uma verdadeira guerra” para resolver o problema.
Homens e mulheres revoltados com a situação resolveram fechar a passagem deteriorada para exigir providências da prefeitura no início dos anos 2000. “Fomos pedir os nosso direitos e foi muito bom porque evoluiu, olha aí o desenvolvimento”, conta Maria.
Foi só depois disso que a região deixou de ser considerada difícil de habitar e passou a atrair mais moradores. “Deu ânimo para a população, porque essa era a maior dificuldade. Antes não tinha incentivo para morar aqui”, conta Aurélio Alvares. Ele calcula que a região do Jardim Aeroporto passou a se desenvolver mesmo entre 2005 e 2010. “Em comparação com aquela época, em 80, o bairro cresceu muito”, diz.
Crescimento recente
Em 2010, segundo o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Bairro Popular já contava com 18.816 habitantes. E, de lá para cá, cresceu apenas em 3% no número de moradores. No entanto, quem vive lá considera que a região do Jardim Aeroporto é bem equipada e até dispensa idas ao Centro da Capital.
Na educação, além da pioneira Escola Estadual José Mamede de Aquino, a região conta agora também com as Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil) Cristo é Vida e Rosa Maria Rodrigues (antiga Bem-Te-Vi), as Escolas Municipais Frederico Soares e Carlos Vilhalva Cristaldo.

Antes, Maria Márcia Mariano precisava ir até o posto de saúde do Bairro Silvia Regina para conseguir atendimentos básicos. Inclusive, foi assim que ela fez o pré-natal. Agora, o bairro tem a UBS (Unidade Básica de Saúde) Dr. Vespasiano Barbosa Martins e uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em bairro próximo, o Santa Mônica.
Além disso, o Jardim Aeroporto tem dois Cras: Valéria Lopes da Silva e Dr. Albino Coimbra Filho. Tem também campo de futebol e pista de caminhada, além de um Centro de Educação Ambiental, chamado Odilza Fernandes Bittar.
Comércio bem movimentado
Segundo o Perfil Socioeconômico de Campo Grande, publicado em agosto de 2025, o rendimento médio por domicílio na região é de R$ 1.424,68. Já a renda per capta é estimada em R$ 420,79, com renda nominal dos homens, em médica, R$ 670,52 e das mulheres, R$ 357,10.
Esses recursos circulam nas vias comerciais da região. “Farmácia, mercado, avenidas que dão acesso à saída de Cuiabá e de Sidrolândia, lojinhas de roupa nas avenidas”, lista Aurélio Alvares. Ele diz que quase não precisa ir ao Centro da cidade, porque o Jardim Aeroporto tem seus pequenos núcleos comerciais.
Maria Márcia Mariano concorda. “Tem muita loja mesmo, farmácia, academias ao ar livre, tem tudo o que a gente precisa. É só descer a rua de casa para chegar em padaria, depósito de material de construção, comércios e mercados grandes”, diz a moradora da rua Heitor Vieira de Almeida.
Falta banco e segurança
“Dá para fazer tudo, só não dá para ficar rico”, brinca Aurélio Alvares. Ele diz isto porque os únicos serviços que obrigam os moradores do Jardim Aeroporto a ir até o Centro de Campo Grande são bancos e lotéricas. “Para acertar na loteria, jogar na Mega Sena, tem que ir no Centro”. Agora, ele lembra, também é mais fácil chegar ao restante da cidade atravessando a ponte.
Já Maria Márcia Mariano minimiza o problema porque já aprendeu a resolver tudo pelo aplicativo de Internet Banking. O único problema citado pela moradores é a falta de segurança da região. Ela conta o Jardim Aeroporto já foi mais perigoso. “Teve até tiroteio na feira uma vez”, lembra. No entanto, Maria ainda sente falta de mais policiamento na região.
Fala Povo: Midiamax nos Bairros
A história dos bairros de Campo Grande é tema do Fala Povo: Midiamax nos Bairros. Ao longo desta semana, reportagens especiais vão apresentar aos leitores aspectos históricos, indicadores socioeconômicos, demandas populares e peculiaridades das diversas regiões de Campo Grande, culminando com programa ao vivo no sábado. Quer ver seu bairro na série? Mande uma mensagem para (67) 99207-4330, o Fala Povo, WhatsApp do Jornal Midiamax! Siga nossas redes sociais clicando AQUI.