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Polícia

Violência na fronteira é ligada a ‘empresários do crime’ e banalização, segundo pesquisador

Armas e pistoleiros estão disponíveis tanto para uso do crime organizado, quanto para resolução de conflitos pessoais
Marcos Morandi -
Nos últimos dias fronteira registrou três ataques com mortes (Foto: Marcos Morandi, Midiamax)

A escalada de assassinatos por encomenda na fronteira de , no Mato Grosso do Sul e Pedro Juan Caballero, no Paraguai revela uma dinâmica complexa que transcende o mero acerto de contas. De uma perspectiva analítica, os recentes homicídios se enquadram em uma dupla lógica de atuação: a dos ‘empresários do crime’ e a da ‘banalização da violência’.

A reflexão é do e doutor em criminologia pela Universidade de Barcelona, ​​Espanha, Juan Alberto Martens Molas. Em conversa com a reportagem do Jornal Midiamax, o pesquisador paraguaio fala da dinâmica a respeito das execuções ocorridas em lugares até então ‘preservados’ pelos pistoleiros, como restaurantes e centro comerciais, envolvendo a linha imaginária da fronteira entre a cidade brasileira e a paraguaia.

Ao falar sobre a lógica dos ‘empresários do crime’, Juan Martens explica que “uma parcela dos crimes de sicariato (pistolagem) faz parte da forma de solução de problemas entre grupos do ”. Segundo ele, neste contexto, inserem-se casos de alta complexidade (como os três mortos do lado brasileiro “na linha” ou o ocorrido no pátio do shopping, onde a intenção é matar e a execução não respeita limites de espaço público ou privado.

“Quando a intenção é eliminar, as regras de comportamento são ditadas não pela lei do Estado, mas sim pela lei dos ‘empresários do crime’. O fato de as investigações da polícia apresentar, a figura de um ‘patrão’ e um ‘secretário’ evidencia a estrutura empresarial por trás dessas execuções. A violência é um recurso de gestão de conflitos e poder dentro desta estrutura”, pontua o pesquisador.

Por outro lado, a ‘banalização da violência’ passa a ficar mais explícita, a prática dos crimes de pistolagens, o acesso a armas e serviços de execução tornaram-se acessíveis a ponto de serem utilizados para resolver problemas que não estão diretamente ligados ao crime organizado.

Em outras palavras, o pesquisador ressalta que, como “há sicários e armas disponíveis e acessíveis, é possível requerer esses serviços e utilizá-los, mesmo que o mandante não faça parte da estrutura do crime organizado”.

Com isso, no entendimento de Juan Martes, a violência, antes restrita a disputas de poder, torna-se um recurso disponível no mercado para a solução de conflitos interpessoais ou empresariais.

‘Balas sem endereços’

Os recentes acontecimentos de violência ocorridos na ‘Linha Internacional’ entre as cidades gêmeas (Ponta Porã e Pedro Juan), como a chacina do restaurante, quando três paraguaios foram executados em meio às crianças, mulheres e pratos de comida, ganham proporções assustadoras.

“Isso me preocupa faz com que eu reveja uma expressão que sempre utilizo para contrapor a violência existente na fronteira {‘Aqui as balas tem endereço CPF’}. O que temos visto nos ataques recentes mostram que nem todos os tiros seguem a direção apontada. Há balas perdidas e sem rumo certo”, reflete o comerciante ouvido pela reportagem do Midiamax no final do ano de 2022 e agora abordado novamente.

O temor do empresário ganha sentido diante do ataque ocorrido na última segunda-feira (20), em plena luz do dia, em estacionamento de um tradicional shopping da cidade que atrai milhares de turistas. As vítimas (uma com óbito no local) e a outra que segue em estado grave, foram alvejadas, enquanto alguns clientes ainda guardavam as compras nos porta-malas os seus veículos.

Lugar certo, hora errada

No dia seguinte, no período da manhã, um pistoleiro invadiu um lava rápido em Pedro Juan e atirou contra duas pessoas. Uma morreu com 10 disparos no coração, quanto a outra foi ferida na perna. Na mesma terça-feira (21), já ao entardecer, moradores de Pedro Juan que estavam em uma região comercial tiveram que sair em meio a um tiroteio.

No corre-corre provocado pelo ataque de pistoleiros, um mecânico brasileiro, identificado como Victor Manoel Benítez, de 46 anos, morador de Ponta Porã acabou atingido dentro de uma loja de peças. Ele foi socorrido até um hospital, mas morreu durante a madruga.

Benítez, não estava à serviço do crime, nem era procurado por criminosos. Ele estava em busca de uma peça de reposição para um dos veículos que consertava. Segundo relatos, ele não teve envolvimento no confronto e foi uma vítima colateral. Estava no lugar certo, mas em uma hora errada.

A impunidade como motor do crime

Voltando à análise do pesquisador paraguaio, o fator que consolida e incentiva ambas as lógicas (‘empresários do crime’ e ‘banalização da violência’), no seu entendimento, é a impunidade.

“Pesquisas indicam que 90% dos crimes de pistolagens permanecem impunes. É excepcional descobrir quem ordenou a morte e, em raras ocasiões, os executores (sicários) são detidos”, pondera o professor.

Segundo ele, essa baixa taxa de resolução torna o recurso ao sicariato “barato e seguro” para os mandantes, pois o risco de o Estado descobrir a autoria intelectual é extremamente baixo. “Por trás dessa impunidade, há também uma perigosa normalização da violência, manifestada na crença de que as vítimas “mereciam morrer assim”, que “caíram na sua lei”.

“Essa percepção é, por vezes, ecoada até mesmo por agentes de segurança, com frases como: “eram narcotraficantes…” ou “é ajuste de conta no más”, o que, segundo Juan, na prática, desestimula a investigação aprofundada e reforça o ciclo de violência e impunidade.

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