Sem receber salário há pelo menos cinco meses, médicos da Santa Casa de Campo Grande contratados no regime PJ (Pessoa Jurídica) seguem com atividades paralisadas. Desde o início de setembro, o hospital passou a cancelar cirurgias e procedimentos que não sejam de urgência e emergência. Agora, os anestesistas também cruzaram os braços, o que causa a suspensão de todas as cirurgias eletivas.
Em coletiva de imprensa há uma semana, na última sexta-feira (10), a presidente da Santa Casa, Alir Terra, afirmou que “quase todas as cirurgias eletivas” estavam suspensas. Agora, o hospital enviou comunicado a pacientes informando o cancelamento de todas as eletivas, já que a presença de anestesista é obrigatória. No entanto, os médicos seguem realizando atendimentos de urgência e emergência normalmente.
Mesmo com paralisação há mais de um mês, pacientes com procedimentos marcados são surpreendidos com cancelamento na véspera da operação. “Na última hora, a Santa Casa alegou que os anestesiologistas estavam em greve e não podia mais fazer o procedimento, teria que aguardar remarcar”, explica Miguel Anatalino Ribeiro. Segundo o SinMed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), o hospital tem mais de 100 anestesistas terceirizados.
Miguel sofreu acidente em julho de 2024 e está com fixador de Ilizarov na perna, conhecido como ‘gaiola’. A cirurgia para retirada do aparelho estava autorizada pelo plano de saúde e marcada para esta quinta-feira (16) na Santa Casa, mas o hospital cancelou a operação por mensagem um dia antes do procedimento.

Cancelamento por mensagem
Na mensagem de texto enviada ao paciente, a Santa Casa omite a falta de pagamento aos médicos. A instituição afirma que o cancelamento é devido a “uma situação de força maior que impacta os procedimentos cirúrgicos eletivos”.
Depois, a Santa Casa diz que viu a necessidade de “suspender temporariamente todas as cirurgias eletivas que estavam previamente agendadas”, devido à paralisação do serviço de anestesiologia.
Segundo o comunicado, “a presença de uma equipe de anestesiologia completa e em pleno funcionamento é crucial para a realização de qualquer procedimento cirúrgico” e, por isso, o cancelamento é “indispensável para garantir a segurança e a qualidade do atendimento”.
Por fim, a Santa Casa lamenta a paralisação, informa que o procedimento será reagendado “assim que a situação for normalizada” e que o hospital está empenhado em retomar a normalidade de serviços.
Prejuízo aos pacientes
Enquanto médicos sofrem sem receber salário, pacientes amargam a dor de aguardar a resolução de problemas de saúde, sem expectativa alguma de reagendamento. “Minha perna incha, já está rejeitando os pinos, tem de tirar agora mesmo”, lamenta Miguel Anatalino Ribeiro.
Ele está impossibilitado de trabalhar, por conta da ‘gaiola’ na perna. “Preciso voltar à ativa, porque, com esse aparelho, nem calça consigo vestir. Só de short e chinelo; se eu colocar um calçado, a perna incha.” O procedimento de retirada é considerado eletivo por não causar riscos à vida do paciente.

O que diz a Santa Casa?
No fim de setembro, o hospital entrou com ação judicial alegando que a vigência do contrato com a Prefeitura de Campo Grande e o Governo do Estado havia acabado no fim de agosto, sem formalização de um novo convênio. O termo foi prorrogado por mais 30 dias.
Ainda, explicou que não recebeu resposta sobre o reajuste nos valores, uma vez que o repasse está congelado desde 2023, e, no período, houve inflação e aumento de custos hospitalares. Atualmente em R$ 32,7 milhões, o termo não seria suficiente para a Santa Casa, que absorve 55,37% da demanda hospitalar na Capital.
O Jornal Midiamax pediu informações sobre este caso específico à Santa Casa de Campo Grande, que informou que irá apurar e responderá “assim que possível”.
‘A responsabilidade é da Santa Casa’
O presidente do SinMed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Vieira, afirma que o problema é crônico e cobra posicionamento mais firme por parte do hospital. Segundo ele, há médicos impactados em cerca de 12 especialidades, todos contratados por regime PJ.
“A Santa Casa alega que não está fazendo o pagamento porque não está tendo repasse municipal ou estadual, mas esses médicos não fizeram contrato nem com o município, nem com o Estado. Eles fizeram contrato com a Santa Casa. Então, a responsabilidade do pagamento é da Santa Casa”, diz o sindicalista.
O sindicato explica, ainda, que esses profissionais são contratados por empresas terceiras, que não estão recebendo o valor devido pela Santa Casa. A empresa responsável pela anestesiologia tem mais de 100 profissionais alocados na instituição, segundo Marcelo. “Mas existem outras empresas, como, por exemplo, a de ortopedia, que é a mesma situação.”
Além disso, o presidente do SinMed-MS ressalta que as empresas e os médicos contratados como PJ seguem pagando impostos e emitindo notas, o que gera custos, mesmo sem receberem o pagamento devido. Por fim, ele informa que o sindicato já judicializou a questão, na tentativa de obrigar a Santa Casa a fazer os pagamentos, que têm valor total de cerca de R$ 3,5 milhões.
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(Revisão: Dáfini Lisboa)