Manifestação é realizada a partir das 11h desta sexta (15), na Ary Coelho
O Fórum de Cultura de Campo Grande divulgou, na tarde da quinta-feira (14), uma nota de reúdio em função da apreensão da obra ‘Pedofilia’, integrante da exposição ‘Cadafalso’, da artista mineira Alessandra Cunha, também conhecida como Ropre. Para o coletivo, a obra foi vítima de censura e questiona com base em que a polícia pode efetuar a apreensão da obra, cuja exposição seguiria até domingo (17), no Marco (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul).
O coletivo também critica que as críticas da obra tenham sido tiradas do contexto pedagógico proposto pelo museu e aponta que “as telas de Alessandra despertam debate, e nada justifica a censura porque limita a criação artística e a liberdade de pensamento”.
Entenda o caso
Selecionada para a Segunda Temporada de Exposições do Marco, a série que denuncia as violências e opressões decorrentes do machismo está exposta desde julho no museu e a três dias de seu fim foi atacada por deputados estaduais na quinta-feira.
Um boletim de ocorrência foi registrado pelos deputados Herculano Borges (SD), Paulo Siufi (PMDB) e Coronel Davi (PSC), alegando ‘apologia ao crime’. Ainda na tarde de ontem, a obra foi apreendida pela polícia, a partir do entendimento do delegado Fabio Sampaio, do DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) de que a obra incitava, sim, à pedofilia.
Nesta sexta (15), artistas planejam mobilização a partir das 11h, na Praça Ary Coelho, no Centro de Campo Grande, para protestar contra o que classificam como censura. A diretora do Marco, Lucia MontSerrat, deverá prestar depoimento na tarde de sexta-feira (15), na DEPCA.
Confira a nota na íntegra:
NOTA DE REPÚDIO
A comunidade cultural representada pelo Fórum Municipal de Cultura de Campo Grande vem manifestar seu repúdio à retirada da obra da artista Alessandra Cunha Ropre do Museu de Arte Contemporânea de MS em Campo Grande.
O gesto mostra a arbitrariedade dos que se julgam “guardiões” da moral e dos bons costumes, uma extremada posição do pensamento ultraconservador que não oferece chances ao diálogo e ao entendimento do que sejam obras de arte.
Conforme a curadora do Marco, a exposição visa a denúncia contra a pedofilia e alerta para os males que isso possa causar. As obras pictóricas, são um reflexo de nosso tempo e suas contradições. As linguagens da arte são diversas, ampliam a construção do conhecimento e a liberdade criativa. As telas de Alessandra despertam debate, e nada justifica a censura porque limita a criação artística e a liberdade de pensamento.
A exposição que já possuía recomendação para pessoas acima de 12 anos, é uma obra hermética, só bem interpretada após acurado olhar e não representa ofensa à moral, aos bons costumes, e muito menos é pornográfica como querem nossos zelosos representantes estaduais que, tardiamente, resolveram imitar o Banco Santander que proibiu a exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” em Porto Alegre.
O Fórum se coloca ao lado da artista, da gestora do MARCO, da categoria e de todos os cidadãos que prezam pela arte e pela liberdade, lembrando que estamos alertas, por que é por aí que começa um processo de censura que está atingindo diversas manifestações culturais.
Pelas liberdades individuais, coletivas, artísticas e respeito à Constituição Federal.
