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Por risco ao patrimônio histórico, carnaval de rua da Esplanada deverá mudar

Iphan sugere criação de 'marco regulatório' para eventos no local
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Iphan sugere criação de ‘marco regulatório’ para eventos no local

O futuro do carnaval de blocos de amanheceu nebuloso nesta sexta-feira (3). Isso porque a decisão de proibir a realização de um evento carnavalesco neste sábado nas dependências do Complexo Ferroviário – área histórica cujo patrimônio físico é tombado – pode trazer grandes consequências nas próximas edições do carnaval, dentre elas, o fim da folia de blocos na região da Esplanada ou, pelo menos, uma mudança de local.

O imbróglio se instaurou após uma reunião, na tarde de ontem, entre o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) com diversas pastas da Prefeitura, Polícia Militar e os organizadores do bloco Capivara Blasé. No encontro, a festa de ‘enterro dos ossos’ na Esplanada Ferroviária teve realização suspensa, com grandes chances de nem acontecer.

A suspensão ocorreu após o Iphan exigir dos presentes a assinatura de um termo de responsabilidade para eventuais danos causados ao patrimônio público no festejo – decisão amparada numa série de incidentes com bens tombados do entorno durante este carnaval, desde atos de depredação e vandalismo a pouca estrutura logística para atender os foliões, assim como o transtorno gerado aos moradores do local e até à Santa Casa, que fica a duas quadras do festejo. Porém, como o termo proposto não foi assinado, o Iphan manteve a proibição o festejo naquele local.

A preocupação do Iphan  tem sua legitimidade, já que a obrigação do órgão também é proteger bens de valor cultural, como o complexo ferroviário de Campo Grande, que é tombado nas instâncias federal, estadual e municipal. “Todos os órgãos presentes na reunião foram unânimes pelo cancelamento do evento, cuja expectativa de público seria de até 30 mil pessoas. Aquela área não comporta todo esse público e, por conta da experiência com o carnaval, exigi que alguém se responsabilizasse pelo eventual dano ao patrimônio público”, explicou a superintendente do Iphan em Mato Grosso do Sul, Norma Ribeiro.

O que ocorreu, no entanto, é que o poder público – Sectur (Secretaria de Turismo), Semadur (Secretaria Municipal de Desenvolvimento urbano), GCM (Guarda Civil Municipal), Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e a Polícia Militar – entenderam que não deveriam compartilhar a responsabilidade com o bloco, visto que não eram organizadores.

“Quando assumimos a Sectur, tivemos reunião com os blocos e afirmamos que a prefeitura não tinha recursos para a realização do carnaval. Mesmo assim, os blocos afirmaram que iam fazer os eventos porque tudo já estava encaminhado, e pediram apoio logístico. Esse foi o nosso comprometimento, no que entendemos que era a nossa obrigação entrar com o apoio logístico, como a instalação de banheiros químicos, articulação de segurança pública. Mas não poderíamos assinar este termo exigido pelo Iphan porque não era um evento nosso”, explica Nilde Brun, titular da Sectur.

Outros endereços

Representantes da Sectur e da Semadur chegaram a propor a realização do evento em outros espaços, tais como a Cidade do Natal, Praça do Papa e até mesmo numa área bem próxima ao complexo, na Avenida Mato Grosso com Calógeras, em frente ao Hotel Gaspar. “Nós sugerimos isolar aquela área para o evento ocorrer ali, sugerimos que montassem o palco na Mato Grosso para que a concentração de pessoas fosse maior fora do complexo. A organização não quis, mas acho que ainda não foi batido o Martelo”, completa Brun.

Para um dos organizadores do Capivara Blasé, o diretor teatral Victor Hugo Samúdio, sair da Esplanada não é uma opção e a percepção é de que há falta de interesse de que o carnaval continue por lá. “O que está muito claro nas conversas é que querem fazer de tudo para tirar dali. É verdade que nos deram opções, mas nosso bloco, assim como os outros, são ocupações populares legítimas. Eles surgiram ali, então temos todo esse sentimento de pertencimento aquele lugar”, afirma.

De acordo com a organização do bloco, se a situação não for contornada, o evento de sábado deverá, mesmo, ser definitivamente cancelado. “Se não puder acontecer lá, vai ser o fim. A gente não vai para outro lugar”, apontou.

Consequências

Todo o imbróglio em torno da proibição do evento pode acabar como sendo a crônica de uma morte anunciada da folia de blocos na Esplanada Ferroviária. Com o engessamento das condições de realização de eventos no complexo, os blocos poderão ter que procurar outro espaço para os desfiles carnavalescos, já que, apesar do termo exigido pelo Iphan dizer respeito apenas ao evento de sábado, o órgão admite a necessidade de uma espécie de marco regulatório dos eventos realizados no complexo.

“O Iphan não é contra o carnaval, embora a população que more no complexo seja. A nossa decisão desfavorável foi por conta do dano ao patrimônio, que é pelo que nós respondemos. Mas, o que nós esperamos é que os futuros eventos aqui na região tenham uma adequação e um plano de ações preventivas, aos moldes dos eventos culturais que acontecem em outras áreas tombadas Brasil a fora, como o carnaval de e Salvador, por exemplo, para que o dano ao patrimônio não ocorra da forma como ocorreu”, aponta Norma Ribeiro.

Uma reunião ainda está prevista para esta manhã a fim de contornar a situação e proporcionar a realização do festejo, mas, enquanto isso, a festa de sábado segue suspensa. “É uma pena que seja assim, porque esses blocos ressignificaram a cidade no período de carnaval. São ocupações urbanas legítimas e espontâneas que movimentam a cidade, geram dinheiro. Há anos a cidade não investe no carnaval”, aponta Vitor Samúdio, que também é presidente do Fórum Cultural de Campo Grande.

De fato, as festas com blocos carnavalescos na região da Esplanada, em Campo Grande, consagraram um novo e recente comportamento da cidade – na verdade, um fenômeno observado em várias capitais do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza. É o ressurgimento do carnaval de rua, uma ocupação dos espaços urbanos na festa popular mais simbólica do país. Mas, que precisa de participação efetiva do Poder Público para se perpetuar como tradição sem trazer danos. Só alegrias.

Atualização: a realização do evento foi autorizada pelo Iphan após reunião na tarde desta sexta-feira (3), na qual o próprio bloco, a Sectur, a Sectei (Secretaria Estadual de Cultura e Turismo) assinaram o termo de responsabilidade exigido pelo Iphan. A festa terá entrada apenas pela Rua Calógeras e a presença de ambulantes será fiscalizada. Os organizadores do evento se comprometeram a fazer uma campanha entre os foliões contra a depredação e também contra comportamentos abusivos, como xixi na rua. “É importante as pessoas terem cidadania, o que queremos é cultivar nelas a sensação de pertencimento daquele local”.

* Matéria alterada às 14h20 para acréscimo de informações

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