“Vinte reais e um sonho”. É assim que Eliane Prado, de 40 anos, iniciou sua trajetória na área da beleza e estética. Partiu de Naviraí a capital Campo Grande e, assim como diz, começou “lá de baixo, pequenininha” e foi crescendo aos poucos. Já famosa no Jardim Aeroporto e com estabelecimento próprio, sentiu o despertar para o trabalho voluntário, o “bonde da beleza” que entrega serviços gratuitos e o principal: autoestima para vítimas do câncer.
“Eu vim de Naviraí, a 360 quilômetros daqui. Tinha o sonho de fazer estética e aí, quando cheguei, acabou dando tudo errado. Na época, fui para a área de vendas, fui trabalhar como vendedora, principalmente, porque porque ia demorar para eu conseguir ter um retorno na área da estética. E aí, depois, graças a Deus, consegui, montei meu espaço no bairro. Comecei com uma loja de cosméticos, era bem pequenininho o espaço e aí eu vi a oportunidade de prestar o serviço”, relembrou Eliane.
Desde o início, Eliane diz que entendeu que precisava começar com a prestação do serviço e depois ampliar a clientela. “E aí foi aumentando, aumentando a clientela, inclusive, a gente chegou em um ponto que eu não tinha nem recepção e colocava cadeiras diárias, eu pegava diariamente da minha casa. Colocava na frente da loja e atendia as clientes no fundo. Passava ônibus, jogava lama nas clientes, era literalmente na calçada. E aí depois, graças a Deus, Deus foi abençoando”, comentou.






Funcionárias chegaram sem experiência e ganharam profissão
A empresária e micropigmentadora passou a batalhar pelo espaço próprio no Jardim Aeroporto e, conforme o negócio foi ampliando, ela também foi levando a sua equipe. “As meninas que prestam serviço aqui são quatro, fora outras, que estão indiretamente comigo por conta das parcerias. Todas, sem exceção, foram minhas recepcionistas, secretárias do espaço, e aí começaram sem experiência alguma e fui dando o treinamento. Hoje todas são formadas, seja a depiladora, a esteticista, a lash design, também se tornando microempresárias e prestando serviço. E fico muito feliz por isso e por tudo que Deus tem feito em minha vida”, contou, emocionada.
Conforme Prado, a gratidão pelas bençãos recebidas a fez pensar em algo para o próximo. Assim, uma vez por semana, leva atendimento gratuito na “Sala da Beleza”, localizada no Hospital do Amor, no bairro Aero Rancho, região sul da cidade.
“É por isso que eu sou tão grata. E quero retribuir de alguma forma, o que eu puder fazer pelo outro, porque Deus foi muito bom comigo, as pessoas que colocou no meu caminho, o jeito como as portas se abriram, a forma que eu cheguei aqui, e a forma que me encontro hoje, então, estou muito feliz e realizada”, argumentou.
‘Beneficiando muitas mulheres’, diz embaixadora de projeto que nasceu no Jd. Aeroporto

A auxiliar de serviços gerais, Vanessa Garcete Candia, de 40 anos, é uma das pessoas já atendidas pela micropigmentadora. Ela passou a se envolver tanto com o projeto que se tornou a embaixadora do “Mãos Que Constroem”, nome criado por Eliane. “Ela refez a minha sobrancelha na época do tratamento, que é algo muito triste, desde a descoberta. É pesado e a gente que é mulher, nossa autoestima, cabelo, pele, é tudo. E só quem passa por isso sabe como é díficil”, disse.
De acordo com Vanessa, é impossível ficar sem sobrancelhas. “E a Eliane, com este projeto, está beneficiando muitas mulheres que passam por esse momento muito difícil, que não é fácil. E acho que hoje em dia está tão difícil o ser humano se compadecer pela dor do outro. E ela tira o tempo dela para fazer isso ao próximo, então, é uma honra ser embaixadora do projeto. Até me pergunto: ‘Será que Deus tem alguma coisa para mim’. Quando ela me convidou, fiquei super feliz. No meu caso, já tem quatro anos e, quando a médica falou que eu estava curada. E refiz minha mama também. Tem um mês, vai fazer um mês amanhã”, afirmou.


Em todo este processo, Vanessa ressalta que aumentou, cada vez mais, sua vontade de viver. “Eu sempre falo com as meninas. Elas me vêem e falam assim: ‘Nossa, nem parece que você teve câncer’. Porque eu continuei vivendo. Eu quis viver, resolvi viver. E pessoas como a Eliana, assim, que dão esse força pra gente. Ela tira o tempo dela. É um amor de pessoa e tem uma história muito linda. Este projeto é maravilhoso….e apareceu no momento em que a minha autoestima estava lá embaixo, de verdade mesmo”, comentou.
Flávia Miranda, assistente social do Hospital do Amor há cerca de 8 anos, diz que voluntários parceiros, como a Eliane, ajudaram a construir o espaço da beleza no hospital e são muito agraciados. “Estas pessoas doam seu tempo, fazem outras se sentirem bem, felizes e elas mesmo saem mais felizes ainda. E aí escutamos vários relatos, porque acabam ganhando este presente, este dia de beleza e saem com a autoestima elevada”, finalizou.
Confira mais detalhes do projeto:
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