Em meados dos anos 80, Campo Grande dava seus primeiros passos no universo da moda de passarela. Esse marco deve-se à criação da escola de modelos Passarela Manequim, que atraía alunos de vários municípios de Mato Grosso do Sul, interessados em fazer carreira na moda.
Desde que foi criada, a escola teve três endereços na Capital. Inicialmente, operava na Galeria Dona Neta, no Centro da cidade. Mais tarde, foi transferida para a Rua 15 de Novembro. Por fim, desempenhou suas atividades na Rua Euclides da Cunha, já nos anos 90.
Um de seus proprietários, Julian Medina, contou ao MidiaMAIS que o instituto tinha aval do SENAC. Assim, além de possibilitar aos jovens sul-mato-grossenses realizarem os seus sonhos de serem manequins, o curso contava com certificação ao final.
“Era uma escola particular, mas tinha esse aval do SENAC que nos dava esse aporte, tanto na questão pedagógica, quanto no auxílio de conteúdo. Então, dava esse peso legal, e ela foi se transformando cada vez mais, conforme a evolução normal da nossa existência”, explica
Dessa forma, a escola oferecia lições completas, desde postura, aulas de etiqueta, automaquiagem e, até mesmo, truques de stylist. “Ensinávamos até a andar de salto”, recorda Julian.
“Quando houve esse aperfeiçoamento nos conteúdos, eu fui solicitado, porque, em 1986, eu estava deixando de ser bailarino. E, nessa transição, fui convidado para dar aula na passarela. Minha função era dar essa agilidade e movimento de corpo. Eu não ia dar aula de dança, mas ia utilizar técnicas da dança”, conta o consultor de visual merchandising.

Grande movimento e salas de aula lotadas
Segundo Julian, no período em que a escola atuava na Rua 15 de Novembro, os horários mais concorridos para assistir às aulas eram no turno da tarde. “No final da tarde, você não conseguia passar ali, porque era muita gente. Eram muitas meninas. Eu costumo dizer que 10 entre 10 meninos da sociedade eram nossos alunos”, recorda.
Além de ensinar os truques da passarela e de modelagem para fotografias, o curso dava noções de comportamento social para meninos e meninas. Assim, em pouco tempo, a escola ganhou notoriedade e credibilidade entre os campo-grandenses.
“A gente cuidava muito do aperfeiçoamento social. Então, a coluna vertebral da escola era mantida, mas nós tínhamos as transversalidades, que era a parte de comportamento, se defender de assédios, porque eram tudo adolescentes”, explica o ex-proprietário.
A Passarela Manequim também desempenhava papel de agência de modelos, conseguindo trabalhos para as alunas na área desejada. Conforme Julian, nessa época, a cidade tinha “um cenário muito grande de desfiles e de feiras”, que contribuiu para isso.
As modelos eram contratadas para trabalharem de recepcionistas em grandes feiras e exposições. Além disso, participavam de desfiles promovidos por colunistas sociais. “Todos esses eventos tinham bilheteria e dava muito certo, porque lotavam”, recorda Julian.

Boutiques alimentavam cenário da moda na capital de MS
Antes da inauguração do Shopping Campo Grande, em 1989, a moda na Capital permeava as vitrines das boutiques. Era lá que as tendências iam parar, antes de adentrar os guarda-roupas de homens e mulheres. “Eram essas boutiques que fomentavam os desfiles, que forneciam os looks”, conta Julian.
Com a chegada do shopping, a moda se expandiu na cidade. Algumas dessas boutiques foram para dentro do centro comercial. Outras lojas, vieram de fora do estado. Marcas como Pakalolo, Benneton chegaram à cidade, nessa época.
Assim, no início dos anos 90, aconteceu o primeiro desfile do shopping. A Passarela Manequim teve grande participação no evento, que contou com as modelos da escola, além de apoio da instituição na organização.
Segundo Julian, a tarefa foi trabalhosa, mas no fim deram conta. “A gente conseguiu organizar. Cada desfile tinha um cenário, era aquela coisa rapidinha, mas mudava a identidade, a comunicação ali da marca. Nós ficamos, mais ou menos, com 15 desfiles para fazer”, lembra.

Último proprietário da Passarela Manequim
Nos anos 90, a Passarela Manequim ficava na Rua Euclides da Cunha, próximo ao cruzamento com a Rua Bahia. Com vidros enormes, era possível ver as modelos treinando suas performances nas passarelas, algo que chamava tanta atenção, que provocava até congestionamento na região.
“A sala de passarela tinha um vidro enorme porque as casas antigamente ali, até hoje, são grandes. A Euclides estava começando a se transformar na nossa Oscar Freire. Então, aquilo chamava muita atenção. Tinha um sinaleiro ali na Bahia, e, às vezes, ficava aquela fila de carro vendo as meninas fazendo aula”, conta Julian.
O proprietário foi o último a tocar as atividades da escola. A Passarela Manequim deu suas últimas contribuições no cenário da moda regional quando foi transferida para dentro do Senac. A oportunidade de levar a escola para a instituição, com a qual já tinha parceira, foi agarrada com força por Julian.

“Eu indexava a mensalidade por dólar porque, na época, a nossa moeda não valia, e o aluguel era caro. Então, você tinha despesas estruturais. Eu falei: ‘Nossa, caiu do céu essa proposta’. Mudamos para o Senac, mas com uma outra metodologia”, explicou.
No Senac, a escola ficou por mais um período, até fechar as portas de vez. Isso porque Julian resolveu se dedicar a um novo projeto em Bonito, que lhe colocou em contato com a dança, novamente. Hoje, restam as lembranças e muitas histórias dessa época para serem contadas.
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