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Redescobrir Campo Grande: afinal, dá para pagar de turista na própria cidade?

Redescobrir a cidade segue tendência de aproveitar espaços públicos
Guilherme Cavalcante -

A pressa do dia a dia, a pouca divulgação de locais turísticos entre os habitantes e até mesmo a busca do conforto dos shoppings centers muitas vezes são obstáculos que dificultam que campo-grandenses conheçam plenamente os espaços públicos de onde moramos. Dos museus aos parques, há quem jamais tenha pisado em algum deles ou saiba a importância de certos equipamentos que estão silenciosamente à disposição da população.

Por conta desse desconhecimento tão comum, comportar-se como turista na cidade em que se vive e descobrir o que a cidade já oferece é uma espécie de tendência Brasil afora, e que a gente também começa a ver por aqui, pouco a pouco. E o melhor: sai muito, mas muito mais em conta que comprar passagens, arcar com diárias em hoteis e encarar restaurantes caros e nem sempre tão bons.

“Será que uma pessoa da periferia, de qualquer cidade, se sente convidada, se sente apta a estar no mesmo espaço que aqueles que moram no conforto da região nobre, que costuma ter mais praças, mais verde? A resposta de uma década atrás seria ‘não’, mas hoje as pessoas já têm noção do coletivo, de que os espaços públicos não são feitos apenas para um grupo”, comenta a antropóloga Silvana Nascimento.

De fato, é como se um ‘estatuto de ocupação’ começasse a ser praticado dentro das áreas urbanas, combatendo, inclusive, uma provável lógica de privatização de espaços públicos.

Quem aproveita?

Não faltam exemplos de pessoas que encaram espaços públicos da cidade, inclusive pontos turísticos, com sentimento de descoberta. “Eu nunca tinha ido ao Museu Dom Bosco, nem quando era criança. Fiquei de e como estava sem grana comecei a visitar os locais da cidade. Passei a manhã inteira lá [no museu], e descobri coisas incríveis. Imagina quando inaugurarem o Aquário… O Parque das Nações vai ser um deslumbre turístico”, conta a estudante de psicologia Larissa Carneiro, de 21 anos. “Sinceramente, não sei porque fiquei tanto tempo sem conhecer esses espaços, a gente não costuma valorizar o que é daqui, né?”, completa.

Assim como Larissa, várias outras pessoas que enfrentam período de vacas magras finalmente deram conta de que havia um universo de lazer, entretenimento e de conhecimento ao redor. “Levar as crianças para se divertir é o que? Shopping, pizzaria e cinema? Existem outros espaços e a gente tem como explorar. E o melhor é que quase sempre é gratuito”, conta Rosana Ferreira, 39, mãe de Bianca, de 6 anos, e de Laura, 4. “Uma cidade com tanto verde, tantos parques e a gente se enclausurando em shopping. É claro que precisamos redescobrir a cidade onde moramos”, diz.

“Depois de cinco anos sem férias, devido à faculdade e trocas de serviço, vi muita gente viajando e tirando fotos em locais muito parecidos com os daqui. Até que minhas férias chegaram e me perguntei: gente, isso tem aqui e eu nunca fui”, relata a jornalista Danielle Valentim. “Reservei um sábado das minhas férias e comecei o tour, na minha própria cidade, pelo café da manhã no Mercadão Municipal. Depois segui para Praça das Araras, região do Aeroporto, Afonso Pena e finalizei no Parque das Nações Indígenas. Foi cansativo? Foi. Igualmente se estivesse conhecendo outra cidade”, revela a jornalista.

‘Estatuto de ocupação’

De fato, mesmo que tímido, o fenômeno da ocupação de espaços públicos chama atenção e consiste numa das etapas que fazem mover a engrenagem do desenvolvimento, como apontam os arquitetos e urbanistas Regina Maura Lopes Couto Cortez e Valter Cortez, idealizadores do projeto de Requalificação do Centro de , que deverá promover a revitalização da região central. No entanto, a velocidade destas apropriações também dependem do desenvolvimento de políticas públicas.

“Nossa visão é que muitas vezes as comunidades periféricas não se sentem no direito de reivindicar a ocupação dos espaços, mas a cidade é de todos. E quando um fenômeno de apropriação como esse acontece, é porque estamos ultrapassando obstáculos, como o sentimento da privatização, a gentrificação”, aponta Valter Cortez.

“Eu costumo dizer que tudo que não é usado é, na verdade, mal usado. Então, a cidade que não explora seu potencial – como Campo Grande, que é uma capital – perde oportunidades… Financeiras, inclusive. Quando a gente não revindica os espaços da cidade, a gente faz com que ela não funcione, não desenvolva. E os gestores têm papel importante nisso. Nós estamos perdendo eventos, por exemplo. Somos ainda uma capital com comportamento provinciano, mas temos uma responsabilidade de promover desenvolvimento regional. Isso começa pela exploração do potencial por meio das políticas públicas”, aponta Regina Maura.

Sintomática

O crescimento do carnaval de rua em Campo Grande é um dos grandes ‘sintomas’ desse processo de ocupação de espaços públicos. Blocos de carnaval como o Cordão Valu e o Capivara Blasé tornaram-se atraentes o suficiente para manterem foliões na cidade, que durante os dias de festejo, desbravam as ruas da região do Complexo Ferroviário na Capital. “Nosso bloco, assim como os outros, são ocupações populares legítimas. Eles surgiram ali [na Esplanada Ferroviária], então temos todo esse sentimento de pertencimento aquele lugar”, afirma.

E os ganhos de não ter a Capital vazia durante os dias de folia é perceptível no bolso. Da Prefeitura, inclusive. Uma pesquisa realizada pela IPF (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da ), UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e da Sectur revelou que o carnaval campo-grandense gerou, em 2017, cerca de 7,04 milhões – dos quais R$ 3,2 milhões foram destinados ao consumo de bebidas e R$ 2,54 milhões a alimentos. Em outras palavras, a cidade arrecada em impostos sobre serviço, uma das maiores fontes de arrecadação municipal, em dias onde a receita costuma ser extremamente baixa.

Outro sintoma do sentimento de ocupação é o surgimento de grupos que promovem rotas urbandas de lazer em espaços públicos, como o projeto ‘Onde ir com os filhos em Campo Grande’, uma fanpage criada em agosto de 2015 com o objetivo de fugir do lugar-comum na hora de decidir onde se divertir com a criançada.

​Criada pela consultora empresarial Jani Vieira, 37, a página também conta com o suporte da jornalista Jacqueline Alves Cordeiro, 31 anos. Para elas, a troca de experiências proporcionada pela página gerou a mudança de um paradigma. “Agora temos essa ideia de diversificar mais as atividades, proporcionar experiências novas às crianças. Minha percepção de lazer mudou”, comenta Jacqueline.

Jani concorda, e acrescenta que a ocupação de espaços públicos é importante não só para as crianças, mas para a cidade. “Quando a gente frequenta os espaços ao ar livre, os pontos turísticos, enfim, a gente fica mais vigilante e passa a cobrar a infraestrutura. Existem lugares belíssimos da cidade que são malcuidados. Saindo de casa a gente constata isso e das autoridades”, conclui.

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