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Polícia

‘Não sei como será’: Dia das Mães é vazio sem fim para quem perdeu filho para a violência

Obrigadas a seguir em frente, mães que perderam filhos para violência relatam tristeza e angústia de suas perdas
Mirian Machado -
"Essa foi nossa foto quando compramos nossos óculos, ela tem o sorriso mais puro", diz mãe de Karol (Arquivo pessoal)

O é dia de comemorar e homenagear a figura materna e a maternidade, mas o que era para ser um dia todo especial com troca de afetos entre mães e filhos será, infelizmente, de vazio e principalmente indignação para as mães que perderam os filhos para a violência. “Não sei como será. Não sei como viver isso ainda”, disse desolada Patrícia da Silva Leite, da jovem Karolina Silva Pereira, que aos 22 anos teve a vida interrompida de forma brutal pelo ex-namorado que não aceitava o fim o relacionamento.

“Estou em um pesadelo sem fim, os dias passam e a dor aumenta, cada dia é uma batalha diferente para enfrentar. Eu não entendo como minha filha foi arrancada dessa vida de forma tão cruel e maldosa”, contou, lembrando que ainda é difícil de acreditar que filha não está mais aqui e assim tem ido todos os dias ao cemitério, desde o falecimento da jovem, no dia 2 de maio. “Eu não consigo parar de ir ao cemitério para ver se isso tudo não é só um pesadelo. À noite eu espero o telefone tocar com ela dizendo que está vindo, não consigo mais dormir porque ainda espero acordar disso tudo. Às vezes, eu paro e penso: e se eu estiver só dormindo? Mas aí vou lá no cemitério e vejo que não estou dormindo. Eu sei que ela não está ali, mas sabe quando você quer estar perto e parece que ali você vai encontrar o pedaço que te falta?”, questionou ainda tentando explicar tamanha dor da perda de um filho.

Patrícia não conseguiu voltar para a casa onde morava com Karol, o marido e o outro filho, de apenas 3 anos. A casa, comprada em novembro de 2019, financiada com muita luta, era motivo de comemoração da família a cada ‘melhora’ feita no imóvel. Agora, na residência vazia de alegria, estão os cachorrinhos de Karol que também sentem a ausência da alegria da jovem. A família só vai ao local para alimentá-los.

“Não temos mais uma casa, nem um lar. Me falta vontade de comer, de sorrir, de caminhar, não consigo responder às pessoas porque não sei como fazer isso. Tenho sorte que temos pessoas ao nosso lado que estão nos dando apoio, principalmente em relação ao meu filho, pois, não tenho condições de cuidar dele sozinha. Tudo me lembra a Karol, é como se ela estivesse aqui e eu não posso tocá-la, nem tirar ela desse pesadelo. Isso é a pior tortura para uma mãe”, lamenta.

Dia das Mães

No domingo do Dia das Mães completam exatos 12 dias da morte de Karol. Patrícia lembra que desde pequeninha a filha fazia café da manhã e sempre dava um jeito de presenteá-la, além de dizer o quanto amava a mãe e agradecia por ser a mãe dela. “Eu encontrei as cartinhas que ela me escrevia quando pequeninha. Todos os momentos eu me pergunto: o que será da minha vida sem meu primeiro amor? Uma semana antes do pesadelo, a Karol nos falou: ‘vocês me deram o que eu mais queria, um irmão’. Nós nos abraçamos e choramos juntos”, lembrou sobre o filho de 3 anos.

“Eu tenho minha mãe, tenho minha sogra que também é como minha mãe, e eu não sei como será no domingo, não sei como viver isso ainda. Todos estão fazendo de tudo para não me deixar assim, mas é difícil até para eles lidar com essa dor. Então ainda não sei como será no domingo”.

Karol era encantadora, transmitia sorrisos, alegria e luz por onde passava. Mãe e filha eram além de tudo amigas, faziam tudo juntas, roupas, cabelo, maquiagem.

“Dizer que somos fortes é conversa, quem consegue ser forte com tudo isso? A verdade é que precisamos continuar aqui porque ainda temos batalhas a seguir, temos contas para pagar e uma criança que não tem culpa de estar vivendo dentro desse pesadelo. Só Deus para me dar o entendimento que preciso agora. Espero que nenhuma mãe, nenhuma mulher passe pelo que minha menina passou e pelo que estou passando”, deseja.

“O Dia das Mães será vazio sem ele”, diz Marisilva. (Foto: Redes sociais/ Midiamax)

Caso Wesner

Vivendo da mesma dor de perder um filho, também de forma cruel e brutal, a mãe do adolescente Wesner Moreira, de 17 anos, morto ao ter mangueira de ar comprimido introduzida ao corpo em lava-jato de , conta que mesmo após seis anos, o luto ainda é muito dolorido.

“Dia das Mães e não ter o Wesner por perto é muito difícil”, diz dona Marisilva Moreira da Silva. A data comemorativa era simples, mas muito especial. “Ele me dava presente todo Dia das Mães. De manhã ele embrulhava. Ele sabia que eu gostava muito de copo e vasilha, então arrumava dinheirinho, comprava e guardava. De manhazinha ele pulava em cima da cama e me dava aquele abraço apertado, magrinho”, disse com a voz embargada, como se visse a cena da lembrança passar como na cabeça.

“Sempre ficávamos em casa, me abraçava, fazia um almoço. Ele gostava de mexidão com ovo, carne de panela, macarrão, então eu fazia. É um buraco enorme. A gente tenta preencher, mas não consegue. O Dia das Mães será vazio”, lembra.

O jovem teve a vida interrompida em fevereiro de 2017. A dupla acusada de matar o garoto foi condenada a 12 anos de prisão por homicídio qualificado doloso. Os dois, Willian Enrique Larrea e Thiago Giovanni Demarco Sena, foram julgados no dia 30 de março deste ano e alegaram que o caso não se tratou de brincadeira de mal gosto que resultou na morte do rapaz, mesmo assim foram condenados.

Thiago, dono do local, foi condenado a pagar uma indenização de R$ 100 mil por danos coletivos pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho). Segundo a decisão, o valor de indenização será revertido ao FMIA (Fundo Municipal para a Infância e a Adolescência) de Campo Grande para financiar projetos de combate ao trabalho infantil, sob a fiscalização do Ministério Público do Trabalho.

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