Com quatro décadas de história, a região das Moreninhas enfrentou um longo período de discriminação e preconceito para quem observava a região de fora. Não só pela distância, mas também por conta dos índices de violência e crimes graves reportados com frequência, ao longo de muitos anos.
Contudo, atualmente, e de acordo com quem por lá mora, a melhoria na segurança no bairro já é reconhecida por seus habitantes como uma conquista, a ponto de haver uma campanha informal para que a fama de bairro perigoso fique no passado.
Oficialmente com 24 mil habitantes (mais de 70 mil, se considerarmos loteamentos vizinhos), as Moreninhas têm população maior que muita cidade de Mato Grosso do Sul. Moradores tratam casos violentos como isolados, passíveis de ocorrer em qualquer região da cidade, e afirmam: “Hoje a Moreninha é segura”.
Próxima parada: Moreninhas
Nos próximos dias, o Jornal Midiamax fala sobre o desenvolvimento das Moreninhas no projeto Fala Povo: Midiamax nos Bairros. No site, no jornal impresso e também no programa televisivo do Jornal Midiamax (canal 4 da Net e transmissão ao vivo nas redes sociais), várias histórias serão apresentadas, além de curiosidades, pontos gastronômicos, segurança, infraestrutura e tudo o que envolve o cotidiano da população local.
A partir de hoje (6), você acompanha reportagens que vão culminar com uma edição ao vivo do programa, transmitida da região no próximo dia 11 de outubro, sábado, sediada no Morena Atacadista, a partir das 11h, com direito a atração musical, sorteios, brindes e muito mais. Já anota o endereço: Rua Fraiburgo, 1269 – Moreninha.
Fama de insegura da região das Moreninhas prejudicou até quem procurava trabalho
História viva da região das Moreninhas, Cristina Conceição da Costa — mais conhecida como ‘Cris Presentes’ —, comenta que já presenciou de tudo no bairro, durante as quatro décadas vividas na região. Nascida e criada no complexo de bairros, Cris hoje possui uma loja de presentes, utilidades domésticas e variedades. Personagem e espectadora do crescimento da região, ela narra ao Jornal Midiamax o passado do qual não tem saudade.
“Estou praticamente desde 1981 aqui. Antes, tinham gangues e era um bairro muito discriminado. O pessoal procurava serviço no Centro ou outros bairros e, quando questionado onde morava e respondia ‘na Moreninha’, o empregador falava ‘ah, então não tem’. E era mesmo, pois eu já passei por isso quando tinha entre 15 e 16 anos”, relata a empresária.

Com o passar dos anos, a onda de insegurança entre os moradores acalmou, segundo o relato de Cris. Ela conta que, desde 2005, possui comércio na Moreninha, mas há nove anos empreende em uma das principais ruas, a Ipamerim. Durante todo esse tempo, a loja da campo-grandense nunca foi alvo de criminosos.
“Graças a Deus, nunca fomos roubados. Às vezes, passam alguns usuários de drogas aqui na frente, mas nunca fomos roubados. O policiamento também está bom, às vezes passam alguns policiais aqui. Para mim, está tranquilo o policiamento. A gente viu de tudo um pouco, mas já não temos do que reclamar”, pontua Cris.
Outro empresário também “nascido e criado” nas Moreninhas é Michael Pereira, de 33 anos. Com a churrasqueira à beira da rua, o empresário conversa com o Jornal Midiamax, ao mesmo tempo em que assa a carne e atende sua clientela. Para ele, a Moreninha está bem organizada atualmente.
“A gente já teve muito problema com segurança, pois era muita matança, desordem. Hoje, a Moreninha está bem organizada, tirando casos isolados, como brigas entre irmãos e desejo de querer fazer justiça com as próprias mãos, não tem ninguém que reclame que foi assaltado. A Moreninhas, hoje, não é 100% segura, mas é muito mais segura”, analisa.

O jovem Ricardo Loio, de 24 anos, saiu do bairro Nova Campo Grande para morar nas Moreninhas há poucos meses. Ele foi em busca de oportunidades — e conseguiu. Vendedor em uma loja de roupas e acessórios, o jovem também vê o bairro como um local tranquilo, mas pede reforço no policiamento, principalmente ao anoitecer, quando a sensação de insegurança aumenta.
“A rua é bem tranquila, nunca vi nenhum tipo de suspeito, tiro, nada disso… O policiamento podia ser maior, porque, quando chega a noite, a insegurança aumenta um pouco. As lojas vão fechando — algumas mais tarde que outras — e aí a gente tem que tomar mais cuidado”, afirma.
Perturbação de sossego e violência doméstica lideram ranking de ocorrências
Por definição, o que torna um bairro inseguro envolve furtos, roubos e crimes violentos em geral, como homicídios e feminicídios. As estatísticas reforçam que as Moreninhas controlaram esse cenário: entre os crimes de maior incidência, estão a perturbação de sossego e a violência doméstica.
O levantamento feito pela 6ª CIPM (Companhia Independente de Polícia Militar) aponta que, somente no mês de agosto do ano passado, foram registradas 206 ocorrências de perturbação de sossego, enquanto no mesmo período de 2025, foram registradas 216.
O major Lafayette, Comandante da 6ª CIPM, explica que a perturbação de sossego é uma denúncia frequente, principalmente durante a noite e aos fins de semana.
“São pessoas que, em suas residências, colocam som em volume muito elevado e acabam incomodando os vizinhos. Também há alguns estabelecimentos comerciais, principalmente bares e conveniências, que instalam som mecânico e, às vezes, som ao vivo, o que acaba ultrapassando certos limites e incomoda a vizinhança”, explica o comandante.

Apesar de ser uma denúncia recorrente na 6ª CIPM, o major ressalta que outras ocorrências com maior nível de violência são priorizadas.
“Por não ter um alto nível de violência, a PM dá prioridade a situações de maior gravidade. Por isso, muitas vezes, essas ocorrências acabam tendo um tempo maior de atendimento. Mas é importante que essas informações cheguem até nós, para podermos direcionar nossas fiscalizações, principalmente em estabelecimentos comerciais”, ressalta.
Quanto ao horário das denúncias, o major esclarece que elas podem ser feitas em qualquer momento do dia. “Existe uma falsa cultura de que só é possível denunciar depois das 22 horas, mas não. Desde que haja algo que esteja incomodando o cidadão, ele pode acionar a PM”, afirma.
Seguro nas ruas, perigoso em casa
A ocorrência que ocupa o segundo lugar no ranking da 6ª CIPM é a violência doméstica. Segundo o major Lafayette, em sua maioria, as denúncias envolvem ameaças, intimidações e restrições que os agressores impõem às vítimas.
“O que chega para gente são denúncias das mais variadas, mas as mais frequentes são ameaças que o agressor pratica contra a mulher. E muitas vezes não chega a ter a violência física, mas as ameaças, as intimidações, as restrições que ele impõe à vítima são as mais frequentes”, explica o major.
Para combater essa realidade tão ou mais preocupante quanto a segurança nos ambientes públicos, há cerca de dois anos, foi instituído o Promuse (Programa Mulher Segura), da PMMS, no bairro Moreninha. Com isso, as vítimas de violência doméstica podem acionar não só o 190, mas também o próprio programa.
“Esse programa busca enfrentar a violência doméstica e tem como foco oferecer atendimento mais especializado às vítimas. Em emergências, a vítima deve ligar para o 190, o canal mais rápido, mas também pode procurar a sede do nosso quartel para realizar uma entrevista e relatar toda a situação”, esclarece o comandante.

Melhora na segurança pública
Assim como relataram os moradores ao Jornal Midiamax, o major também acredita que o bairro Moreninha melhorou com o passar dos anos. “A região da Moreninha já foi muito malvista, tinha uma fama ruim, pois as pessoas tinham certo preconceito de que era muito violenta. Mas, com base nos índices criminais, podemos afirmar com certeza que houve uma melhora na segurança pública na totalidade”.
Entre os fatores que contribuíram para essa melhora, está o aumento no efetivo, que permitiu a atuação de mais equipes no patrulhamento nas ruas. Aliado a isso, os índices de roubos e homicídios apresentaram melhora nos últimos 12 meses.
“Esse reforço do policiamento também se reflete na diminuição dos índices criminais e no aumento da sensação de segurança. Claro que a população ainda pode sentir medo em determinados locais, mas é por isso que precisamos que os moradores tragam essas informações, para a gente conseguir levar um trabalho preventivo e evitar crimes nesses lugares”, conclui o major.
Fala Povo: Midiamax nos Bairros
A história dos bairros de Campo Grande é tema do Fala Povo: Midiamax nos Bairros. Ao longo desta semana, reportagens especiais vão apresentar aos leitores aspectos históricos, indicadores socioeconômicos, demandas populares e peculiaridades das diversas regiões de Campo Grande, culminando com programa ao vivo no sábado. Quer ver seu bairro na série? Mande uma mensagem para (67) 99207-4330, o Fala Povo, WhatsApp do Jornal Midiamax! Siga nossas redes sociais clicando AQUI.
(Revisão: Dáfini Lisboa)