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Política

Atividade econômica em terras indígenas divide opiniões no Senado

O debate aconteceu nesta terça-feira, em uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos
Anna Gomes -
Saulo Cruz/Agência Senado

O projeto que autoriza a exploração econômica, incluindo mineração, em terras indígenas recebeu opiniões favoráveis e contrárias em audiência pública na CDH ( de Direitos Humanos) nesta terça-feira (15), no Senado Federal.

Os defensores do PL 6.050/2023 — proposto pela CPI das ONGs — ressaltaram que a atividade econômica aumentará o protagonismo dos indígenas e reduzirá a situação de dependência das tribos, mas o texto também foi criticado pela possibilidade de agravamento de riscos ambientais e de violação de direitos constitucionais.

A Constituição proíbe a exploração de terras indígenas por terceiros sem que haja uma regulamentação específica, e o projeto de lei propõe essa regulamentação. Os autores dos requerimentos de audiência, Rogério Carvalho (PT-SE), Humberto Costa (PT-PE) e Augusta Brito (PT-CE), argumentam que é necessário avaliar as proposições que tramitam no Congresso sobre esse tema, de modo a evitar os riscos de exploração predatória e violação de direitos fundamentais.

A presidente da CDH, senadora Damares Alves (Republicanos-DF), lembrou que a proposta não vem para “inventar” atividades econômicas em terras indígenas, mas para regulamentar atividades que já existem.

“Não ignorar isso: já temos povos produzindo. (…) A gente precisa dar uma atenção especial a essa produção que está acontecendo em terra indígena”, disse.

Demanda dos indígenas

O governador de Roraima, Antonio Denarium, salientou os resultados positivos do apoio do governo estadual à agricultura familiar indígena, num processo que — ressaltou — mantém respeito à cultura, às tradições e à autodeterminação daquelas comunidades. Ele disse que o conjunto de programas do governo atende à demanda dos próprios indígenas, e essas políticas públicas aumentam a produtividade das terras e reduzem o desmatamento pela agricultura.

“Hoje há 200 polos de produção dentro de comunidades indígenas, e o governo do estado dá total apoio e capacitação para o plantio de dez hectares [em cada comunidade]. O governo entra com tudo: trator, plantadeira, calcário, semente, adubo”.

Mas a dependência da ação estatal para a agricultura nas comunidades foi constrastada pelo senador Marcio Bittar (União-AC) com a elevada proporção de terras indígenas no território brasileiro. Ele alertou para o conceito de “proibição de prosperar” que pesa sobre os indígenas.

“Quando você proíbe a pessoa de prosperar, é uma lei antinatural. A tentativa de prosperar, de melhorar sua vida e a de sua família, é da natureza humana”.

Lisio Lili, presidente do Conselho Municipal de Direitos e Defesa dos Povos Indígenas de (MS), cumprimentou a disposição de Denarium em apoiar a produção nas comunidades indígenas, mas também criticou a dependência de políticas públicas e pediu respeito aos conhecimentos tradicionais dos povos.

“Estamos falando da autonomia dos povos indígenas, porque é isso que a Constituição diz. Não é o Estado ensinar a gente. Não é o Estado fazer pela gente. (…) Se fosse assim, por que estaríamos em terras indígenas (…) se não é para fazer o que nos faz indivíduos?”, perguntou.

Em sua opinião, o projeto deve ser mais claro e pragmático para permitir que os povos indígenas tenham o direito de aproveitar os recursos de suas terras e desenvolver seus modelos próprios de produção, mas o Estado tem levado os indígenas a uma condição de “confinamento” territorial, educacional e econômico.

‘Reparação’

Segundo o Agência Senado, empreendedor da etnia Guajajara, Raimundo Guajajara disse que o direito à atividade econômica nas terras indígenas é uma “reparação de danos” a comunidades que sofrem necessidades e não têm perspectiva. Ele criticou a atuação do Ministério dos Povos Indígenas e atacou as ONGs que usam os povos originários como “massa de manobra”.

“Não entrou na minha mente [que] os meus ancestrais assinaram um papel para os países estrangeiros, cedendo as terras do Brasil para eles (…) e depois não poder fazer isso e aquilo”.

José Lucas Lemos Duarte, cacique da etnia Tukano, cobrou parcerias estratégicas e linhas de financiamento para exploração mineral sem danos à natureza e sublinhou que os indígenas não são “coitadinhos”.

“Temos jazidas de potássio na Amazônia. A gente não pode usar por quê? Vamos usar pelo menos pela soberania do país”.

O potássio também foi citado pelo senador Jaime Bagattoli (PL-RO), que o considera um mineral estratégico para a agricultura, mas do qual o Brasil ainda é “refém” de importações. “Os indígenas têm que ter o mesmo direito de qualquer cidadão brasileiro”.

Exploração mineral

Em resposta, o diretor do Departamento de Gestão Ambiental do Ministério dos Povos Indígenas, Bruno Potiguara, questionou: “de que agricultura o senador está falando?”

“Se for uma agricultura de grãos, não é a que alimenta a população. A população é alimentada por uma agricultura de base familiar”.

O diretor criticou os termos do PL 6050/2023, que, segundo ele, expõem os indígenas ao risco de os projetos não levarem em conta o consentimento dos povos envolvidos. Ele disse que qualquer esforço de conciliação que leve à exploração mineral deverá ser feito nos termos da Constituição e dos acordos internacionais ratificados pelo Brasil.

“Que haja a consulta livre, prévia e informada sobre os territórios para que os indígenas possam decidir opinar por eles e dizer se querem ou não aquele projeto”.

A deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP), porém, pediu mais atenção na leitura do projeto. Ela considera que o texto assegura a consulta às comunidades sobre projetos e faz a devida distinção entre atividades de mineração e de garimpagem, além de reforçar dispositivos do Estatuto dos Povos Indígenas em apoio ao progresso das comunidades. Ela criticou setores que desejariam manter os indígenas “como em 1500”.

“Quem é aquele que nós venhamos a viver eternamente do arco e flecha? Por que não podemos ter um trator? Por que não podemos ter uma colheitadeira? Inconstitucional é manter esse povo sem direitos humanos”.

Representando a Articulação dos Povos Indígenas, Alessandra Munduruku pediu prioridade à de suas terras. Ela chamou atenção para a contaminação por mercúrio causada pelo garimpo ilegal, secas e queimadas que atingem a toda a população, e as invasões aos territórios originários.

“Não sei que lei é essa que vocês querem colocar, se já estamos vivendo a tragédia”.

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