Conselheiro do TCE, Waldir Neves atuava em Dourados, e agora elabora parecer sobre o remanejamento de verbas de Alcides Bernal, que pode, ou não, levar a pedido de cassação
Ao ser perguntado nesta última sexta-feira na CPI do Calote, se a empresa Mega Serv, contratada sem licitação por R$4,4 milhões pelo prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal, tinha contratos com a prefeitura de Dourados, durante a gestão do prefeito cassado Ari Artuzi, o gerente da empresa, Milton Feliciano, disse apenas que “não sabia”.
Possivelmente, o representante da empresa ‘esqueceu’ um fato relevante, porque não só a Mega Serv firmou contrato com Artuzi, relativo ao pregão 020/2010, como também a contratação passou pelo crivo do Ministério Público, e depois do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
O contrato de número 138/2010, que teve vários aditivos, foi firmado antes da Operação Uragano, da Polícia Federal, que derrubou toda a administração de Artuzi por desvio de verbas públicas e corrupção. O contrato foi auditado pelo TCE e teve parecer favorável do conselheiro Waldir Neves, em 1º de julho de 2010. A Operação Uragano é de setembro do mesmo ano, portanto mais tarde.
Há mais detalhes significativos: umas das principais pessoas indiciadas na Operação Uragano e processadas pelo Tribunal de Justiça do MS é a ex-secretária de Finanças de Dourados, Ignes Boschetti Medeiros, que cuidava do dinheiro do município junto com Artuzi.
O irmão de Ignez, Ricardo Boschetti Medeiros, foi o representante da Mega Serv no contrato com a prefeitura de Dourados, o que poderia configurar eventual tráfico de influência.
Tem mais: Waldir Neves, que à época era o responsável pelas auditorias nas contas da prefeitura de Dourados, e que legitimou o contrato com Mega Serv, acatando parecer do MP, é o mesmo conselheiro que está analisando, hoje, as contas de Bernal para definir se o prefeito extrapolou, ou não, o limite legal de 5% de remanejamento de verbas orçamentárias.
Waldir Neves foi envolvido em uma polêmica recente, porque a irmã dele, Sidônia Neves Barbosa, funcionária da prefeitura de Campo Grande, foi promovida por Bernal de um salário básico de R$ 1.514,12 para o cargo de Assessor Especial III, com remuneração de R$ 4.990,42.
O conselheiro afirmou desconhecer a promoção, e disse que o fato não interferiria em sua decisão, a ser divulgada em breve.
Além de tudo isso, ainda há o fato de que o representante da Mega Serv que assinou contrato com a prefeitura de Campo Grande foi o mesmo Ricardo Boschetti Medeiros, de Dourados. A sede da empresa fica neste município.
Por falta de explicações do depoente Milton Feliciano, gerente do pequeno escritório da Mega Serv na periferia de Campo Grande, a CPI resolveu convocar Marcos Antônio Marini, que se apresenta como dono da Mega Serv.
Veja em ‘Arquivo’ o parecer favorável do conselheiro do TCE, Waldir Neves, à Mega Serv.