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Transparência

Licitação de R$ 39 milhões do Detran-MS é alvo de investigação

Empresa de São Paulo apontou exigências específicas demais e TCE chegou a sugerir alternativa mais barata
Adriel Mattos -
Vista aérea do complexo do Departamento Estadual de Trânsito, em Campo Grande. (Foto: Edemir Rodrigues, Arquivo, Subcom-MS)

O MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) instaurou procedimento preparatório para investigar suspeita de direcionamento de uma licitação do (Departamento Estadual de Trânsito) para “prestação de serviços contínuos de gerenciamento eletrônico de trânsito”. A concorrência foi orçada em R$ 39,7 milhões.

Esse sistema prevê diversas ferramentas para fiscalizar e monitorar o trânsito nas rodovias estaduais e nas 79 cidades do Estado com o uso de equipamentos para controlar o tráfego e detectar cargas remotamente, sem a necessidade de parar os condutores. Entre os itens questionados estão os chamados óculos interativos, que nada mais são que óculos de realidade alternativa adaptados para a fiscalização.

O certame foi lançado em junho de 2022 e chegou até a ser suspenso pelo TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado). Mesmo sob questionamentos, a licitação prosseguiu e terminou em outubro de 2022 com a homologação do resultado para o Consórcio Controle e Segurança, que ofereceu R$ 35,3 milhões pelo serviço.

A denúncia partiu da empresa Splice Indústria, Comércio e Serviços, com sede em Votorantim (SP). Advogados da empresa procuraram o MP e o TCE relatando que o edital de licitação contém itens que restringem a disputa.

A investigação está sob sigilo, mas o Jornal Midiamax obteve acesso aos autos. Na peça, a empresa alega que o edital limita a concorrência e faz exigências consideradas exageradas.

O TCE chegou a suspender a concorrência, mas acabou liberando e o Detran homologou a contratação do consórcio liderado pela Ensin (Empresa Nacional de Sinalização e Eletrificação), sediada em São Caetano do Sul (SP).

Empresa denuncia exigências de edital do Detran

Na denúncia, apresentada em julho do ano passado, a Splice alega que o item que exige atestado de capacidade técnico-operacional no edital, e no subitem 4, é citado o uso de óculos interativos para blitze de trânsito.

A empresa alega que essa exigência representaria apenas 0,93% do serviço licitado. “Não há razão que motive um certame de quase R$ 40 milhões – e que pode chegar a quase R$ 200 milhões em cinco anos de contratação – venha a permitir a imposição de exigência restritiva favorecendo pequeno número de licitantes (quiçá apenas um), divorciando do objetivo do maior número de ofertas e da contratação mais vantajosa”, diz o documento.

O caso chegou à Ouvidoria do MPMS e foi distribuído à 31ª Promotoria de Justiça de Patrimônio Público e Social, cujo titular é o promotor Humberto Lapa Ferri.

Óculos de realidade virtual, equipamento interativo que pode ser usado pelo Detran. (Foto: André Hawk)

TCE questiona edital, suspende licitação, mas acaba permitindo contratação

A mesma denúncia foi apresentada ao TCE. A corte instaurou processo para acompanhar a Concorrência 02/2022 e o documento da Splice foi anexado. A apuração foi relatada pelo conselheiro Jerson Domingos.

A Divisão de Fiscalização de Engenharia, e Meio Ambiente da corte apontou que o edital apresentou potencial violação à Lei de Licitações (Lei 8.666/1993) e de dano ao erário. Assim, no mesmo dia que as propostas deveriam ser recebidas, Domingos determinou a da licitação.

Em ofício ao TCE, o diretor-presidente do Detran, Rudel Trindade Júnior, justificou que a Lei de Licitações permite exigir capacidade técnica. “Tem-se como lícita a exigência de qualificação técnica no instrumento convocatório desde que pautada pela busca no mercado de empresas que possuam experiência compatível com o objeto licitado e que demonstrem capacidade administrativa operacional suficiente para a execução dos serviços contratados”, escreveu.

Rudel aponta ainda que os óculos interativos são essenciais para a leitura de placas veiculares, através de realidade aumentada, para identificar eventuais pendências como documentação vencida e restrições criminais.

Divisão do TCE sugeriu opção mais barata ao Detran

Em novo parecer, a divisão do TCE apontou que não foi encontrada no edital a justificativa para a exigência dos óculos interativos. Há apenas a estimativa do custo dos equipamentos, de R$ 370 mil por ano, já que seriam locadas cinco unidades.

Para responder à necessidade de redução de acidentes de trânsito, a Divisão sugere a implantação de OTV (ondulação transversal) e passagem elevada para pedestres.

“Para fins de comparação simples, em 2018 o preço para instalar OTV era de R$ 365,97 o metro linear. O preço atualizado pelo IGP-DI [Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna] resulta no valor de R$ 623,01 o metro linear. Para uma via de 12 metros de largura, o dispêndio da administração [Detran] seria de menos de R$ 8 mil, ou seja, com menos de dois meses do valor do contrato de um redutor ou de um controlador de velocidade o objetivo seria alcançado”, diz o documento.

Assim, a divisão pediu a revisão do edital e o conselheiro do TCE liberou a licitação e pediu alterações. Inconformado, o Detran contestou as sugestões da divisão do TCE e pediu que a denúncia da Splice fosse arquivada. Esta foi a última movimentação no processo disponível na investigação do MPMS.

O edital foi alterado e apenas o Consórcio Controle e Segurança teve proposta aprovada, que acabou sendo homologada.

Investigação é prorrogada e entra em sigilo

A notícia de fato foi prorrogada por 90 dias em setembro do ano passado e, em dezembro, foi convertida em procedimento preparatório. A investigação corre sob sigilo.

A reportagem procurou o Detran, mas não obteve resposta até o fechamento deste material. O contato foi devidamente registrado e o espaço segue aberto para manifestação.

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