Enquanto atrasa o vale salarial de funcionários, o Consórcio Guaicurus é destacado no relatório final da CPI do Transporte Coletivo por suspeitas de irregularidades trabalhistas que envolveriam jornadas exaustivas. Nesta quarta-feira (22) parte dos trabalhadores paralisaram, deixando o serviço parcialmente suspenso por algumas horas no início da manhã.
O ato ocorreu após a empresa descumprir o acordo de adiantamento salarial (vale) dos funcionários, mesmo lucrando com o contrato bilionário firmado até o ano de 2042. O Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo e Urbano (STTCU) informou que a paralisação foi um protesto para pressionar a empresa. O pagamento estava previsto para a última segunda-feira (20).
Segundo o presidente do STTCU, Demétrio Freitas, o consórcio alegou falta de dinheiro, justificativa que é questionada pela vereadora Luiza Ribeiro (PT), membro da comissão que investigou o consórcio.
Os ônibus retomaram a circulação gradualmente por volta das 6h30. A categoria ameaça uma paralisação total na próxima segunda-feira (27), caso o pagamento não seja efetuado.
O atraso no pagamento ocorre logo após o encerramento das apurações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal sobre o serviço. O relatório final da comissão encaminhou documentação para o Ministério Público do Trabalho, após identificar suspeitas de condições de trabalho inadequadas, jornadas exaustivas e outras irregularidades trabalhistas, praticadas pela concessionária.
O documento da CPI sugere que sejam avaliadas possíveis violações à legislação trabalhista e às normas de saúde e segurança no trabalho, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego.
Durante as oitivas, ex-funcionários da companhia foram ouvidos. No encontro do dia 11 de junho, o ex-motorista Wesley Moreli revelou ter ido embora da Capital em busca de condições melhores de trabalho.
Conhecido como ‘Príncipe do Consórcio’, o ex-funcionário afirmou que possuía acúmulo de função. “A gente acabava exercendo mais de uma função, era motorista e acabava jogando a gente para fazer manobra”, disse.
Segundo ele, o sucateamento da frota aumentava a pressão da rotina. “O estresse diário, elevador e luzes queimados, em dia de chuva caia água na gente. Isso foi estressando, deixando a gente doente”, afirmou.
O ex-motorista relatou que realizou 11h de trabalho seguidas no Consórcio. Disse que os turnos adicionais são conhecidos como ‘pegas’ e já realizou pelo menos três no mesmo dia. A razão? Ele apontou falta de funcionários das empresas.
Questionado sobre as horas extras, disse que as empresas não pagavam. “Tinha que fazer, porque tinha medo de ser mandado embora”, revelou à época.