Uma falha obstétrica de extrema gravidade no HU-UFGD (Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados) resultou em sequelas severas para uma indígena guarani-kaiowá da Reserva Federal. Após uma cesariana, uma gaze cirúrgica foi esquecida dentro de seu corpo, permanecendo por quatro meses e causando uma infecção generalizada.
A paciente relatava dores intensas, febre e infecções recorrentes desde o parto. Apenas após uma internação emergencial foi descoberto o corpo estranho, que havia comprometido parte do sistema intestinal.
O erro exigiu uma nova cirurgia de emergência, que deixou a paciente com o intestino exposto e a necessidade de utilizar uma bolsa de colostomia, com uso ainda incerto se será permanente.
O caso foi denunciado pelo CMDM (Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Dourados), que emitiu uma forte nota de repúdio. O erro foi classificado como um ato de ‘violência obstétrica’ e institucional, citando “negligência grave durante e após o parto”.
O Conselho destaca ainda que, mesmo depois de suportar imenso sofrimento físico e emocional, a indígena continua a enfrentar maus-tratos durante seus cuidados hospitalares, particularmente durante as trocas de curativos.
Este abuso contínuo, afirma o CMDM, na nota assinada pela presidente Gilvane Bezerra da Silva Dias, demonstra uma “prática desumana e racista persistente” nas relações de cuidados institucionais.
A nota ressalta que a violência obstétrica é reconhecida tanto pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como pelo Ministério da Saúde do Brasil como uma forma de violência de gênero e institucional, uma violação dos direitos humanos e reprodutivos.
O documento enfatiza que o “esquecimento de uma gaze cirúrgica dentro do corpo da paciente é um erro médico inadmissível, que poderia ter sido evitado com protocolos básicos de segurança”.
O Conselho exige investigação rigorosa, punição aos responsáveis e a atuação de órgãos como o Ministério Público e a Defensoria Pública para a implementação de ações preventivas e capacitação obrigatória no atendimento a mulheres indígenas.
O que diz o HU-UFGD
Em nota oficial, o HU-UFGD, que integra a Rede Ebserh, confirmou nesta terça-feira (21), à reportagem do Jornal Midiamax, o conhecimento do caso e lamentou profundamente o ocorrido.
A instituição declarou ter adotado medidas imediatas para o cuidado da paciente e informou que seus protocolos de segurança e atendimento estão sendo revistos e aprimorados.
O hospital assegurou que o episódio está sendo acompanhado “com prioridade pelas comissões competentes e pela corregedoria”.
Confira a nota da instituição na íntegra:
O Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), vinculado à Rede Ebserh, informa que ao saber das questões apontadas imediatamente adotou as providências cabíveis para garantir os cuidados integrais para seu pronto reestabelecimento.
Os protocolos e fluxos assistenciais são constantemente revisados e aprimorados, e o caso está sendo acompanhado com prioridade pelas comissões competentes e pela corregedoria da instituição.
O HU-UFGD lamenta profundamente o ocorrido, manifesta solidariedade à paciente e seus familiares e reafirma seu compromisso com a transparência, a segurança e a assistência humanizada que garanta a integridade e o respeito a todos os pacientes.
Atenciosamente,
Coordenadoria de Comunicação Social
Presidência
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
💬 Fale com os jornalistas do Midiamax
Tem alguma denúncia, flagrante, reclamação ou sugestão de pauta para o Jornal Midiamax?
🗣️ Envie direto para nossos jornalistas pelo WhatsApp (67) 99207-4330. O sigilo está garantido na lei.
✅ Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar nas redes sociais:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.
(Revisão: Dáfini Lisboa)