Mato Grosso do Sul teve 20 obras conveniadas para custeio via FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) canceladas mesmo após repasses que, em valores atualizados, representam mais de R$ 20,5 milhões, corrigidos sob a Selic, principal índice para a atualização monetária nas ações que envolvem a Fazenda Pública.
Os dados analisados pelo Jornal Midiamax são do Simec (Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle) do Ministério da Educação, e mostram que boa parte desses recursos custeariam reformas de baixa e média complexidade, como cobertura de quadra escolar, além de construção de Centros de Educação Infantil.
Outro ponto que chama atenção é que, das 20 obras, mais da metade (12) superava 50% do estágio de execução quando foram canceladas, mesmo após já terem sido aportadas com os recursos do MEC.

Detalhamento
O município com maior repasse da União foi Coxim. A cidade teve cinco obras canceladas após receber R$ 1.386.929,91 em 2011 do FNDE para ampliação e construção de unidades de ensino, além da reforma e edificação de quadras escolares. Hoje, esse valor representaria R$ 4.751.879,66, corrigido pela Selic.
Os empreendimentos foram marcados por demora de quase uma década entre o recebimento de recursos do FNDE e a homologação da licitação para as obras. Além disso, prazos aditivados não foram suficientes para suas conclusões, situação semelhante à registrada em Bela Vista.
A cidade, que faz fronteira com o Paraguai, teve quatro obras canceladas mesmo com prazos aproximados a 2 anos para construção de quadras escolares e espaço educativo na aldeia Piracuá. A cidade recebeu do FNDE o montante de R$ 1.047.419,98 por obras que não tiveram eficiência necessária no decorrer da sua execução.
Distante 468 km da faixa de fronteira, a cidade de Camapuã também chama atenção ao demonstrar ter recebido quase R$ 100 mil do Ministério da Educação para construção de quadra escolar coberta, entretanto no Simec, o empreendimento foi cancelado com apenas 2% da execução, enquanto o recurso repassado pelo Fundo Nacional assegurava ao menos 20% da obra.
Por lá, outro empreendimento também foi dado como cancelado mesmo com receita da União transferida ao caixa municipal. Trata-se de cobertura de quadra escolar, que não superou 48% de execução mesmo com 552 dias de prazo para entrega e recurso disponível em caixa.
A situação é semelhante em outros municípios como Nioaque, Mundo Novo, Itaporã, Santa Rita do Pardo, Rio Negro, Bonito e Miranda.
Em Dourados, o Simec aponta cancelamento da obra de edificação do anfiteatro da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), mesmo após pactuação de repasse avaliado em R$ 1.320.000,00 por parte do FNDE.
Todos os municípios foram acionados pelo Jornal Midiamax para se posicionarem acerca das situações apontadas pelo Ministério da Educação, por meio da plataforma de transparência.

O que dizem?
Nioaque
A Prefeitura de Nioaque, por meio da assessoria de imprensa, afirmou que a obra da quadra escolar coberta, na região central da cidade, conhecida como Quadra do Seu Doca, foi iniciada em 2015 e concluída somente na gestão passada.
O primeiro contrato firmado para execução da obra foi com a Construtora NR Ltda., em outubro de 2014. O acordo foi rescindido e firmado em junho de 2019 com a Galvão Materiais de Construção Ltda. Os repasses do FNDE para a obra foram de R$ 413.117,72, entre 2013 e 2015.
Miranda
Já a gestão municipal de Miranda, afirmou que a obra da Escola de Educação Infantil Tipo B – Proinfância, conveniada em 2010 junto ao FNDE, enfrentou ao longo dos anos “diversos entraves de execução”.
Segundo a Secretaria de Planejamento, foram firmados contratos com diferentes empresas, mas, a cada nova licitação, os custos de insumos e mão de obra se elevavam, o que gerava necessidade de investimentos do município por meio de recursos próprios, “tornando-se inviável a conclusão do empreendimento nos moldes originais”.
A pasta detalhou que do valor total conveniado com o FNDE, de R$ 1.312.853,71, foram efetivamente aplicados R$ 654.946,95 na construção, restando R$ 657.906,36 em saldo.
O valor, conforme a administração, se mostrou insuficiente para a conclusão da obra, em razão dos aumentos dos insumos da construção civil. Para viabilizar a finalização, o município recorreu ao Governo do Estado, em 2022, que garantiu R$ 1.064.288,24, para a nova licitação e conclusão integral da obra, sem necessidade de nova contrapartida municipal.
“O último contrato administrativo, responsável pela finalização da creche, teve valor de R$ 1.158.838,44 e foi encerrado em 27/12/2024. Atualmente, a unidade escolar encontra-se em pleno funcionamento, atendendo famílias da região dos bairros altos do município”, afirmou.
Rio Negro
O Município de Rio Negro, por sua vez, afirma que a construção da Escola de Educação Infantil – Proinfância teve suas obras paralisadas em 2013, por problemas operacionais junto à construtora. O empreendimento contou com recebimento de R$ 307.193,53 do fundo nacional, em dezembro de 2010. A empresa contratada teve 1.141 dias de prazo para conclusão da construção.
Em 2020, a gestão retomou as obras com recursos próprios, visando à inauguração. Em 2022, a escola foi inaugurada e agora, segundo a assessoria da prefeitura, conta com projeto de ampliação para abertura de mais quatro salas de aula.
“O Município informa, ainda, que já tomou providências, inclusive com a propositura de ação judicial, para responsabilização e ressarcimento dos danos sofridos”, destacou a nota encaminhada ao Jornal Midiamax.
As demais prefeituras não retornaram aos questionamentos dentro do prazo solicitado pela reportagem. O espaço, contudo, permanece aberto para manifestação e a matéria pode ser atualizada com acréscimo dos posicionamentos.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação também foi acionado para prestar esclarecimentos quanto à fiscalização desses investimentos, além de detalhar o que ocorreu com os recursos repassados às obras canceladas.
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(Revisão: Bianca Iglesias)